segunda-feira, 8 de junho de 2009

Para meus avós,


Há poucos momentos em que fico assim, com palavras demais e espaço de menos. É como se não coubesse em mim, algo bem estranho. Tão estranho que sei que não estou explicando direito. De qualquer maneira;
Ontem, pouco antes de dormir, comecei a pensar como faço todas as noites. Normalmente rondo coisas bobas até pegar no sono rápido; vestibular, relacionamento, pequenas frustrações e outras distrações quaisquer, mas desta vez foi diferente. Encontrei uma memória perdida, nem sei como, era de um momento bem trivial. Um chaveiro meu havia quebrado e meu avô prontamente se ofereceu para consertá-lo, sabia como gostava deste, e depois de alguns momentos na oficina voltou e me perguntou “era assim?” e eu, mimada, respondi que não, estava ao contrário (o que era verdade, não o falaria por tortura), e lá ele voltou para ajustá-lo exatamente como eu queria. O mais chocante no momento foi o fato de durante esse curto diálogo a amiga que se encontrava ao meu lado respondeu “Nossa, como eu queria ter um avô. Especialmente um assim como o seu, ele faz tudo por você.”; pior ainda é só entender isso aproximadamente oito anos depois.
Nunca fui boa em demonstrar sentimentos, especialmente entre a minha família, mas isso nunca significou que não os ame metade do que amo. O que é muito. Só comecei a indagar se eles sabem disso. É difícil acreditar em coisas que não se vê. Almoço lá todo dia e sei do quão ausente e distante sou a maior parte do tempo, mas não é por mal. Normalmente estou tão concentrada e perdida com os problemas da minha cabeça que bloqueio tudo, e eles são o tipo de pessoa com quem não quero fingir trivialidades pelo social, fingir com eles não é justo. Então acabo ficando na minha e respondendo apenas ao perguntado, puxando assunto aqui e ali sobre as atualidades. Acho que meu receio sempre foi de se eu deixar uma pequena fresta abrir, tudo saia ao mesmo tempo, enrolado e sem jeito como sou e pior, em choros convulsionais como acabei por ficar ontem à noite. Seria chato demais fazê-los passar por isso.
Só não queria perdê-los sem que soubessem disso, na verdade nunca queria ter de deixá-los ir, por mais natural. Já me arrependo tanto das mil facetas minhas que eles nunca verão, e os momentos que talvez eles não estejam lá e me fazem sentir falta de algo que ainda tenho. Queria tê-los no meu casamento, mesmo com meu avô aparentemente não aprovando a pessoa com quem me encontro, e que eles vissem a grande médica que espero me tornar (a qual o apoio destes foi incondicional), e tantas outras coisas que sem eles são incompletas. Eu sem meus avós sou incompleta.
Talvez isso tenha ajudado a esclarecer as coisas sem a necessidade de abraços tortos e, para mim, nunca com momento espontâneo oportuno para acontecer.



Obs.: Era para ficar com um tom mais poético e enfeitado, mas acho que a verdade nunca é assim.