Olhou-o com olhos úmidos, tentando engolir o soluço, procurava algum brilho para se agarrar.
“Então é isso?”
“Acho que sim.”
“Mas...”
“Não, não temos mais espaço para isso, sejam palavras ou gestos; não nos resta mais nada.”
E assim ela se pos a chorar, como que pela morte de algo importante, insubstituível, sugando todo ar a sua volta na esperança de que acabasse. Ele a abraçou evitando que caísse, sempre foram o pilar um do outro, e deixá-la desabar agora seria covardia.
“Desculpa, sei que não queria assim.”
“Você não tem o direito de pedir desculpas, de falar que vai melhorar, ou que eu sou a melhor coisa que já te aconteceu. Eu sei de tudo isso, e é tudo verdade, mas não é da sua boca que essas palavras devem sair.” Ela falava em gritos com o rosto afundado no peito, como que tentando entrar lá, entender o que se passava ali.
“Então o que você quer que eu diga?”
“Que você vai voltar.” Com a pouca força que restava agora tentava se afastar, mas os braços a sua volta cada vez mais apertavam.
“Não posso mentir para você. Seria injusto. Mas não vou te soltar até ter certeza que não vai sair daqui e fazer alguma besteira.”
“Claro que pode, você podia mentir pra sempre para mim, me faria feliz.”
“Mas não seria a verdade.”
“Para mim seria.”
“Eu te amo.”
“Mentiroso, agora eu já sei a verdade. E não importa o que faça, nunca mais será a mesma coisa. Uma ferida após aberta fecha, mas nunca volta a ser igual a antes.”
“Eu sei. Desculpa.”
“Já disse para não falar isso. Posso ir embora agora?”
“Só mais um pouco, por favor.”
“Se você não me deixar ir agora, vou achar que quer que eu fique.”
“Ta.”
“Eu te amo.”
“Eu sei.”
E assim a porta foi aberta, deixando ir um coração despedaçado e fechando outro partido.
3 comentários:
Lindo! Achei lindo!
desculpa
Se eu te abraçar, você vai querer que eu te solte?
Postar um comentário