Aquelas
paredes já haviam visto de tudo, mas nada as prepararia para o que estava por
vir.
Motel
barato, perdido entre a Lapa e a Glória. “Lugar justo” alguns dizem. Paredes
recobertas de veludo, para guardarem seus segredos. Gravam tudo, riem e
discutem. O bizarro já virou rotina. Entra um casal jovem, descolados e
despretensiosos. Daqueles que confundem luxuria por amor e safadeza com
carinho. Olha que engraçado, ela tá vestida de palhaço. Já é carnaval?
Acendem
um baseado, o riso rola solto. Mais um desses, tão ficando populares. Fica
quieta senão não consigo ouvir. Xi, ficou seria a conversa. Meu deus, o que é
que eles tão falando? É isso mesmo? Por que eles estão rindo? Isso não é
engraçado. Cala a boca senão eu não consigo ouvir!
As
horas passava e eles continuavam lá, vestidos, conversando. A quantidade de
peças no corpo aos poucos diminuía, mas não os assuntos. Eles decidiram se
conhecer no motel, é? Gente estranha. Já te falei pra ficar quieta. Ah ta,
quando é putaria você não cala a boca, e agora eu não posso falar?! Isso é
diferente. Ih a lá, agora vai.
Tempos
de silêncio e eles voltam, a risada continua. Conseguem ouvir os quartos
alheios e mais gargalhadas preenchem o ambiente, junto a certeza de que em
nenhum outro aquilo tudo estaria acontecendo. Ela sorri após cada beijo, ele
olha e nada diz. Eles já vão né? Já. Será que lá fora a coisa continuam assim?
Não sei. Será que eles voltam? Espero que sim.
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