quarta-feira, 12 de agosto de 2009

was it a dream or was it a lie?

E assim seu coração foi roubado. Colocaram-no em uma caixinha e saíram a velejar, sem muita pressa e com bastante calma, não consideravam aquele um objeto que uma pessoa como ela sentiria falta. Afinal, estava jogado pelo chão quando o encontraram. Talvez isso classificasse o ato mais como um empréstimo a longuíssimo prazo que um roubo propriamente dito, consideravam-se até fazendo um grande favor tanto a propriedade quanto a proprietário. Enfim, desimportante razões e acasos, o importante é que este, seu coração, já não se encontrava mais na posse de sua dona.
E esta? De principio não deu muita atenção ao fato, “é melhor assim” repetia mentalmente, afinal, aquele já estava todo quebrado mesmo. Sempre considerava o fato de governar sem um, copiar seus companheiros de oficio e jogá-lo fora, descartá-lo em prol do benefício e progresso (próprio. Palavra sempre omitida, mas muito bem escutada nos bastidores), não entendia porque não conseguia, a razão estúpida por tal apego emocional causada pelo próprio, mas agora, tudo se encontrava resolvido.
Após alguns meses, quiçá alguns dias diziam os mais íntimos, este lhe fez muita falta. Não entendia a lógica do raciocínio cru como lhe era apresentado agora, como o cinza jamais se torna vermelho ou azul, nem mesmo naqueles dias em que se encontrava distraída, estes agora tão raros. Sentia-se mecânica, programada, com um constante gosto acido na ponta da língua e pronto a espirrar no primeiro que aparecesse. Verdade era que seu povo progredia, havia fábricas e maquinas agora, mas não pareciam mais tão felizes. Os únicos que ainda lhe mantinham contato extra-diplomático, entende-se por uma relação na qual o interesse é apenas pessoal, eram outros governantes, estes sempre a convidar para as mais pavorosas festas e orgias, todas a custo dos outros. Assustou-os vê-la freqüentando tais lugares antes tão abominados, com o rosto inerte e entorpecido, agora mais poderosa que todos lá reunidos.
O coração? Este tornou-se uma lenda após algumas gerações, diziam apenas que ela nascera sem um, e já não restava mais quem contrariasse tal afirmativa. Aos mais atentos era possível notá-lo cercando-a a s vezes, correndo ligeiro pelos corredores do grande palácio, ou então escondido a pegar sol no jardim. A verdade é que nunca abandonara de verdade a dona, voltou pouco após o seu seqüestro, mas decepcionado com o que encontrou, conteve-se em ser apenas um observador, esperava um dia notar não ser a única consciência presente naquele corpo outrora tão cheio de vida. Até hoje, em vão.