domingo, 5 de abril de 2015

                Te encontrei em um dia quente, quase como aqueles de verão. Eu te encontrei ou você me achou? Não sei, talvez um pouco dos dois. Há semanas discutíamos tudo; sexo, amor, religião, você com suas historias longas e eu com minhas respostas complicadas. Havíamos deixado tanto e tão pouco para a imaginação.
                Desde que nos encontramos percebi a noite derreter, alongando e encurtando os minutos no seu decorrer, até terminar em dia. Não havia assunto com fim, ou problema a ser solucionado, os cigarros eram meus e a culpa era sua. Você louco e eu bêbada.
Desvendamos o corpo um do outro como se pintássemos um quadro, você sempre nos extremos e eu nas lacunas buscando o equilíbrio. Como tinta no papel nos tornamos um até não haver espaço, ou forças, para mais. E assim continuamos até acabar o que menos possuíamos: tempo.
Tempo este que após voltou a ser rígido. Os dias corriam um atrás do outro, enquanto os minutos insistiam em durar sessenta segundos. Havia pedaços de mim e pedaços de você, mas esparços, cada vez mais distantes.
E então, juntos, continuamos separados. Corpos se uniam, mas não se fundiam. As lacunas eram preenchidas por silêncio. Eu ali, você aqui, e ambos distantes. A sincronicidade dos que se perdem. Nos despedimos com a certeza do adeus, e eu com o mesmo sorriso por debaixo do beijo da primeira vez.

                Eu te disse tudo sem falar nada.