sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

fill these spaces up with days.

Cumprimentou-o com os lábios úmidos, deslizou mãos e braços pelo seu corpo até envolvê-lo por completo. Afastou e olhou seus olhos, doces, sorriu. Não haviam mais palavras a serem ditas, não pelo peso que carregam no ar, mas por sua desnecessidade. Sentou ao seu lado no sofá e mais uma vez o envolveu, a ponta do nariz gelado encostando em sua bochecha.
“está com frio?”
“um pouco.”
“quer entrar?”
“hm. Não. Quero ficar com você.”
“Você pode ficar comigo lá dentro. Sem frio.”
“eu sei, mas movimentos são pesados demais para agora.”
Odiava quando falava palavras que não entendia, dessas metafóricas. Gostou apenas da idéia de ficar sentado lá ao seu lado, ela encolhendo seu pequeno corpo contra o dele a procura de calor. Havia se habituado aquele local, a essa casa quase tão sua quanto dela. Riu dos seus espirros altos e seguidos, se preocupava com essa alergia a tudo que nunca ia embora.
“Vamos entrar?”
“ai, que chato! Eu vou fazer café. Quer algo?”
“que você não fume.”
“algo para você...”
“isso é para mim.”
Apenas o olhou feio. Evitava ao máximo fumar ao seu lado, e secretamente haviam combinado que a hora do café também seria a do cigarro, mas isso só aconteceria uma vez no dia. Riu sozinha na cozinha dos pequenos acordos que faziam em silêncio, como o de nunca dizer “tchau” ao se despedirem para diminuir a saudade. Esperou a água ferver e serviu-se da xícara grande de café, seria mais uma das longas noites. Debruçou-se na janela da cozinha enquanto acendia o cigarro, o gosto doce para complementar a falta de açúcar.
“ah, é por isso que demora tanto.”
“você não gosta, não quis fazer perto de você.”
“entendo. Quer companhia?”
“desde quando você fuma?”
“não fumo. Só vou ficar ao seu lado.”
Riu seu sorriso bobo mais uma vez, este havia se tornado freqüente desde que a conhecera. As pernas magras com o fino torso apoiado na janela, sua xícara ao lado, o cigarro na ponta dos dedos, dava vontade de possuí-la ali. Era uma cena bonita, só por tê-la nela, mesmo com aquela coisa fedorenta na ponta. Não sabia por que continuava nos antigos vícios, pareciam de tanto tempo atrás, de outra pessoa, e gostava tanto da nova. Não seria outra, mas uma versão melhor da velha, mais.... arejada? Já começara a falar bobagens sem sentido.
“Então....”
“Então o que? Vou para perto quando acabar aqui. Está quase no fim.”
“Eu sei. Queria saber como será hoje.”
“Não sei. Como quer?”
“Como sempre.”
“hahaha. O típico conservador.”
“É por isso que gosto de só vir a você.”
Não entendeu a ultima frase, era de demais intimidade. Gostava apenas do fingir, da intimidade de velhos, e íntimos, amigos, mas mais que isso significaria problemas. Era doce e gentil e a tratava bem, apenas isso. Qualquer caminho diferente destruiria isso, a leveza.
“Já está tudo na caixinha.”
“Obrigada.”
“E como sempre...”
“Ai, não de novo! Sempre a mais! É tão bobo.”
“Talvez. Vamos?”
“Sim. Já sabe o caminho.”
E assim a porta se trancou mais uma vez, fechando o mundo a sua minimalidade e expandindo aquelas quatro paredes carcomidas pelo tempo. Talvez. Talvez a vida deveria resumir-se a só isso, esse momento, esse exato momento. O que acha?

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

say goodnight and go.

Abriu-se para mais uma noite, desabrochou como as flores intocadas da primavera espantando o orvalho. Sorriu para as companheiras, distantes, invejou as mais brilhantes como sempre fazia. Soltou poeira com espirros e tosse, o frio nunca a fez bem e seu cobertor havia voado para longe há séculos, junto àquela nave estranha. Dançou em seu eixo, a dança desengonçada que tanto gostava, cantarolou a musica composta por uma amiga já apagada, dizem que a saudade é a melhor inspiração.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

eu desisto.
beijos e até nunca mais.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

don't tell me I told you so.

Despiu-se da calma acalentadora enquanto adentrava a casa de piso de mármore, seus passos secos ecoando pelo infinito enjaulado. Das pequenas janelas nada se via, os tons variavam entre o cinza e o branco, apenas uma nuvem, a mais escura, ousava deixar uma ponta de azul claro passar. Por onde andaria o seu sol?

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Meme

Já que não tenho nenhum texto novo para postar aqui e o desabafo idiota que planejei escrever mais cedo era.... idiota; vou postar essa adoravel brincadeira que a B. me mandou. Até agora estou escolhendo roupa para poder sair com ela, sou uma desgraça.


Regras:

Escrever uma lista com 8 coisas que sonhamos fazer antes de ir embora daqui/ Passar o meme para 8 pessoas/ Comentar no blog de quem lhe passou o meme/ Comentar no blog dos nossos(as) convidados(as), para que saibam da "intimação"/ Mencionar as regras.

1. Passar para Medicina na UFRJ, ESSE ANO AINDA! (ou pelo menos voltar a estudar para não tornar a derrota tão humilhante);
2. Aprender a esquecer alem de perdoar;
3. Fazer dieta ao inves de mentir para mim mesma que começarei amanhã;
4. Nunca largar da unica pessoa que me traz lagrimas de felicidades esses dias, mesmo que ele não saiba disso tão bem quanto deveria;
5. Aprender a tocar piano, cozinhar e desenhar algo alem de bonecos de palito. Nunca é tarde para realizar sonhos infantis;
6. Ter sempre mais palavras fora de mim que dentro;
7. Viajar. Não importa pra onde;
8. Gostar de mim;

and the Oscar goes to:
Zi

Diego

Rice

Chaka


é. não tenho oito pessoas. fazer o que!?

terça-feira, 23 de setembro de 2008

I don't believe that anybody feels the way I do about you now.


Ele é todo olhares, e eu sou o adeus. Todo risos, abraços e chamegos; e eu o medo. É as sete da manhã da primavera com pássaros a cantar, a covinha do sorriso sonso; eu o mais escuro da madrugada. Todas aquelas coisas que não entendo juntas, a falta de significado na lógica; e eu as palavras. É o resumo, o bruto, o sucinto; eu sou prolixa até o fim. Ele é vontade; eu sou necessidade.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

they only say things you want to hear.


Desatados os nós do cabelo, solto o cigarro queimado dos dedos é isto o que me resta. Uma pele branca, um cabelo curto demais, torto demais, e um sorriso. Daqueles invejáveis, “de orelha a orelha”, com dentes tortos à frente e paixões por traz.
Secas as palavras são os meus olhos que choram, por dias em seco, ecoando em cada gota, prolongando-se em cada lagrima a rolar pelas bochechas grandes. Sussurram, conspiram, soluçam e minha língua continua imóvel. Cada fonema perdido por você é uma pequena morte em meu coração.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

my voice is an echo

É como uma fome sem vontade. Um desejo por carne, mas não da que se come, da que se toca. Um peso no ar à volta, um cheiro desconhecido, sem significado, uma textura invisível. A explosão de estrelas internas formando sóis apagados, em um universo remexido. Chove sem que as gotas encostem-se a qualquer lugar, tudo continua seco, rachado, indiferente ao relógio que bate no fundo.
O grito que corta a navalha silenciada ecoa no abismo de paredes tortas, expande-se por um infinito esburacado.

sábado, 9 de agosto de 2008

I said it's too late to apologize.

Vestiu-se devagar, calçou a primeira bota e tateou o chão pela segunda. O quarto escuro com a janela aberta não lhe exprimia nada, nem mesmo o outro corpo sentado na cama a alguns metros. Respirou uma, duas vezes. Repassou as imagens na mente, procurava partes da roupa tropeçando no piso incerto. Olhou-se rápido no espelho na parede, havia tantos ali, um gosto azedo inundou-se na boca, o estomago revirou mais uma vez. Trocaram palavras sem significado, só pelo falar, talvez fosse melhor ficar em silêncio.
Os pés doídos seguiam seu próprio ritmo, com um rumo ainda incerto. A lua brilhava forte no céu, cheia, cúmplice observadora de tudo. Encheu os olhos de vergonha, afogou-as com a palma gelada da mão. Respondeu o perguntado por educação, não sabia o que estava sendo dito ali. Sorriu e entrelaçou os dedos, mais um de tantos atos falsos. A mentira separada em dois corpos opostos.

sexta-feira, 25 de julho de 2008



Quando a saudade aperta, tudo segue o movimento. Como se cada órgão espremesse contra o outro, na ilusão que se eu ocupo menos espaço, talvez a falta que você faz nele também diminua. É bem ilógico na verdade, não me faz o menor sentido, mas é a verdade.
O coração dói um pouquinho, como se pequenas agulhas espetassem devagar, e logo encolhe até o tamanho de uma noz pronta para ser quebrada. E todo o resto parece seguir o movimento automaticamente; a garganta aperta em um nó, a boca seca, o estomago revira até as paredes encostarem, tudo se junta sistematicamente, explodindo em um brilho aquoso no olhar. São segundos tão longos que é possível contá-los em anos.
Agarra-se as pontas de um fio invisível, segurando com força para não cair.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

why so serious?



O sangue escorrendo pela parede,
Os gritos ensurdecedores,
As lágrimas pingando no chão.
A mão forte que lhe ia ao rosto,
E os risos diabólicos.
As roupas rasgadas e jogadas,
O corpo frio e semimorto,
Atirado no azulejo branco.
O grito implorando por socorro,
A corda que passava pelo pescoço,
Abafando o choro e tirando o ar.
As pernas que já quase não se debatiam,
E os olhos que começavam a cerrar.
Deixou-a, lá, assim,
Nua, atirada, morta, humilhada,
Afogada em seu próprio sangue.

Poema surgido em meados de outubro de 2006. filho unico. meu orgulho.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

to me, you are perfect.

Sabe.... é, acho que sim. Deveria, é tão obvio. Ao menos parece-me assim, transparente. Não sei, é complicado. Sempre foi, certo? Deve ser a graça. Eu só queria.... é, queria. Essa simples vontade no subjuntivo, algo bem ilógico na verdade. Sempre me chama assim; ilógica. Talvez o mais certo fosse “incomum” ou, até mesmo, “louca de pedra” (por você).

Rasgaria os pulmões a gritar cada palavra que te digo com o olhar e não entendes. Aquelas pequenas, com ar de inocentes, que escorregam por entre meus cílios, parecem-me lágrimas invisíveis.
Derrubaria muralhas e queimaria jardins que construí em volta desse castelo. Deixaria que corresse por cada cômodo e corredor, escancarasse portas e janelas, abrisse cada baú trancado com meus segredos dentro.

domingo, 15 de junho de 2008

don't see what anyone can see in anyone else but you


E tudo começou assim: lá estava eu, com aquele vestido cinza e os sapatos pretos, naquele bar até então ignorado na cidade. Salvo algumas pessoas, aquela me era uma mesa desconhecida, mesmo que amigável. Por entre os rostos e corpos espremidos com mãos encostadas em gotas de bebidas pela mesa, estava o seu. Familiar de tão estranho. Na verdade, não me era nada estranho, apenas familiar. Pus-me a te observar por algum tempo, discretamente para que não percebesse. Lembrei-me de já tê-lo visto antes, trocado poucas palavras sem importância, sabia que não lembraria. Afastei a memória e o pensamento de te recorda-la, provável que por vergonha.
Acho que era tão obvio meu interesse por você que logo fora arquitetado um plano para que percebesse. Não por mim, obvio. Até hoje não entendo como não percebeu. Com o passar do tempo encontrei-me conversando com alguém maior que eu calculara antes como se o conhecesse desde a infância, apesar de ser um mero desconhecido com passos tão rápidos quanto os meus. Não acharia impossível me apaixonar por você logo ali.

(....)

E então você me beijou. Não sei o contexto, mas sei que o fez. Estava tonta e enjoada, então não consegui ficar muito tempo, por mais que quisesse. Pegamos copos d’água na cozinha e meu estômago começava a mostrar sinais de estrago pela vodka intra-venosa tomada anteriormente. Idas ao banheiro, purgações e pedidos de desculpa rechearam o resto da noite, enquanto tentava achar qualquer razão para que continuasse ali enquanto me degradava. Acabei por adormecer em seu colo algum momento, incrivelmente a pedidos seus que o fizesse.

(...................)

quinta-feira, 22 de maio de 2008

just like a song in my heart


Quebrada entre a saudade e a negação costurei os lábios com cetim rosado, evitando que escorressem palavras adocicadas pelo tempo. O estômago invadido e estourado repetidamente pelas borboletas amarelas contagia os outros órgãos, o coração pulsa-me mais vermelho agora, expulsando o cinza do ranço preso em suas paredes.

O oxigênio em meus pulmões tornou-se insuficiente, as células morrem em meu peito abrindo espaço, deixando os ramos com flores roxeadas crescerem. Já invadiram-me a alma. A visão confusa pelas estrelas brilhantes em meus olhos titubeia-me pelos cantos, ofuscam sentidos enquanto giro com a saia rodada sem parar.

terça-feira, 6 de maio de 2008

the truth is, that I miss you so.




Esboçavam-se meios sorrisos por entre as meias palavras. Eram beijos pela metade, seguidos de amores inacabados. Não havia fim ali, ou inicio, havia medo. Corpos trêmulos de calor e frio com corações rachados dentro, desculpava-se pelas despedidas ao amanhecer.
Cedeu-se palavras ao outro, espaços internos, doces da madrugada fria. Abriu, com dedos finos das mãos geladas, pequenas caixas avermelhadas, já cobertas de poeira, revelou-se luz e sombra.

domingo, 13 de abril de 2008

we sure are cute for two ugly people



Se pudesse contava-te segredos até o amanhecer. Sussurava-os um a um em seu ouvido, mesmo que não estivesse mais a escutar. Contaria de vidas e mortes passadas, floria toda primavera e matava cada inverno. Alegrava-me com as paredes, abriria grandes sorrisos para que só elas vissem, detalharia cada imperfeição sua.

( desenho: www.fotolog.com/griffonnages)

segunda-feira, 31 de março de 2008

[ Olivia Broadfield - It's a long way ]

Lutei um dia inteiro contra a vontade de escrever isso. Na verdade, não foi só um dia, deve fazer algumas semanas agora, mas só há um dia essa vontade realmente me incomoda.
É verdade que não tenho nada a falar, nada que resolvesse as coisas ou fizesse diferença, nem muito menos algo que queira ler. Acho que não queria ler nada, queria apenas me ver desaparecer do mesmo jeito que surgi, ou talvez quem sabe aos poucos, como um pôr-do-sol de inverno.
Seria mais fácil se soubesse, se sumissem uma a uma as suposições e as idéias, secassem as lagrimas no rosto. Queria certezas, palpitações de um coração dilacerado, tiros certeiros na sala escura. Costas verbais a longitudes físicas.
Desistências, resistências, reticências a parte, houve amor. Não, não amor, houve junção. Falta de espaços imaginários ou reais, sincronia em tempo e palavras. Existiu, em um pequeno aquário fictício, o desespero de dois que, na verdade, eram um.
Não há mais palavras, só vontades. Isso é o inicio e o fim de tudo. É meu ápice que precede minha queda.

domingo, 23 de março de 2008

Cantou-se a mesma musica para as borboletas do infinito, as asas amarelas arrepiavam.

Deixou-se que o cadeado comido pela ferrugem caísse ao chão, não havia mais lógica para fechaduras. Estava tudo aberto, jogado, arregaçado. Eram como papeis cortados jogados em uma bela paisagem, girando e voando até cair.
Espalhou os cacos, contou-os, observou suas cores e formas. Não havia mais como junta-los, eram apenas uma sucessão de acontecimentos, jamais poderia se dizer da onde vieram.
Desatou um a um os nós do cabelo. Despiu do casaco dor de carmin, espantando o inverno. Calou-se das banalidades protetoras, de nada mais lhe serviam. Sem o frio logo vem o calor, trazendo o abrir da primavera. Cores talvez a levassem dali.



Os lírios desabrochados pela luz derreteram-se no vento, semeou o ar com perfume e pólen.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Did you take the time to realize?

Daquelas duas mãos que se tocaram, como tantas outras já o fizeram sem perceber, nasceram os sorrisos e as caricias trocadas em murmuros silenciosos. As ruas desfilavam tristes com o céu alaranjado nos olhos cansados, desconcentrados de tudo. Da tarde ínfima surgia o brilho da noite, perguntava quantas estrelas era possível contar na piscina infinita dos olhos dilatados. Presos pela incerteza do seu amor, despediam-se com beijinhos ao horizonte, certos que errariam o destino.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

no pressure over cappuccino

Passaram as estações, mudaram as folhagens, caíram as mascaras. Dedilhou-se cada sensação, deixou-se vibrar até terminar o som. Abriram-se os olhos para fechar, bateu-se cada porta até restarem quatro paredes. Fugiu do inicio para o inicio.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

I terribly miss you (more than you'll ever know)

Maybe this decision was a mistake, you probably don't care what I have to say, but it's been heavy on my mind for months now. Guess I'm trying to clear some mental space. I would love to talk to you in person, but I understand why that can't be. I'll leave you alone for good I promise, if you answer this one question for me. I just wonder; do you ever think of me anymore? Do you?

(cansei de tentar usar minhas palavras.)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

(?)

Com quantas palavras se faz um verso, uma poesia, uma prosa? De quantos fonemas sentimentos são feitos ou descritos? Quanto tempo se leva para viver?
O que é a vida exatamente? De quanto ar e água ela é feita? Quantos risos e choros, quantas paixões? É possível pega-la, tateá-la, senti-la, fazer amor com ela? Quanto ela custa?
O que te leva à ser alguém? Dinheiro? Casa? Beleza? O que é exatamente “ser alguém”? É lembrarem de te ligar no seu aniversario ou para checar se está vivo em um curto período de tempo? É saberem do seu passado, do seu presente e imaginarem o seu futuro ou é simplesmente saberem que você existe sem mais razões ou explicações? A que isso te leva?
O que significam as palavras “eu te amo”? Já li que se os índios inventaram dez palavras para simplesmente falar “canoa” como se é possível resumir amor a uma só palavra!? Existem no mínimo dez tipos de canoas conhecidas por eles e só um tipo de amor conhecido pelo mundo? O amor que sinto pelo meu cachorro é o mesmo que sinto pela pessoa com quem me disponho a passar o resto da minha vida sem ter obrigação? O mesmo amor que você sente é o que eu sinto?

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

para que amendoeiras pelas ruas?

Observava as coisas que giravam a sua volta, vozes e barulhos de copos misturavam-se enquanto pegava mais um cigarro. As pontas dormentes dos dedos falhavam procurando o isqueiro, tinha certeza de tê-lo deixado em cima da mesa. Olhou para os lados, confusa, brincar com o cigarro apagado na boca começara a perder a graça. Escutou uma pequena risada, reconheceu o timbre da voz no fundo, conseguia vê-lo brincar com o pequeno objeto azul com o canto dos olhos enquanto ainda remexia a bolsa.
“Você realmente deveria parar de pegar meus cigarros.”
“E você deveria parar de pegar meu isqueiro.”
“Não gosto do gosto de cigarro em você.”
“Ninguém vai te obrigar a me beijar depois.”
Fez uma pequena careta enquanto pegou um cigarro do maço e acendeu antes de devolver o isqueiro, gostava quando encostava nas pontas dos dedos gelados dela. Sentou-se ao seu lado, achava divertida a forma que tragava, fazia um pequeno biquinho, ficava evidente a doçura que tanto gostava.
“Para de me olhar. Que nervoso.”
“Desculpa, é que acho engraçada a forma que você traga. Faz um biquinho.”
“Sim, eu sei. Não consigo tragar com a boca fechada.”
“Que bonitinha.”
Olhou-o reprimindo o comentário, mas acabou rindo, era difícil não fazê-lo. Esvaziou mais um copo, a cabeça começava a girar lentamente, os músculos do rosto amolecendo deixando a expressão mais suave. Encolheu-se com o vento frio, esquecera o casaco em casa e não contava com o frio, ainda era verão no Rio. Deixavam a conversa fluir, um assunto seguia o outro naturalmente, brincavam com os dedos pela mesa, soltando para entrelaçá-los novamente.
“Daqui a pouco vão nos expulsar daqui.”
“Que?” Havia se distraído e esquecido de olhar em volta, já estava quase tudo vazio, provavelmente já havia passado da hora de ir pra casa.
“Vamos pagar a conta?”
“Será que se a gente insistir de ficar aqui eles não expulsam a gente e esquecem da conta?”
“É uma boa idéia, mas acho melhor não. Vou lá resolver isso. E não tenta discutir.”
“Te odeio.”
Puxou-a para perto, beijando seu rosto enquanto se aninhava. Gostava do cheiro do seu cabelo,
mesmo quando coberto pelo odor metálico da tinta ainda era possível senti-lo.
“Odeia mesmo?” Sussurrou perto do ouvido.
“Só quando faz delicadezas desnecessárias, o resto do tempo você complica demais.”
Beijou-a nos lábios, ignorando o gosto amargo dos cigarros, segurando o corpo amolecido pela troca de calor.
“Sabe, acho que até o gosto de cigarros não fica mal em você. Já volto.”
Levantou-se e foi cuidar da conta, ela esvaziava a ultima tulipa mordendo a parte inferior dos lábios, sorrindo com o rosto coberto pelo cabelo. Talvez fosse melhor ir para casa, mas se não ligaram até agora provavelmente estariam dormindo, então não fazia mais diferença.
“Vamos?” Falou enquanto abraçou-a por trás e deu um beijo na bochecha, sempre fazia com que corasse com isso.
Saíram abraçados, eram os últimos clientes, ela tentava roubar seu calor para afastar o frio, ele gostava de tê-la perto daquela forma. Andaram pelas ruas vazias, a madrugada avançara enquanto perdiam-se do tempo com cervejas e cigarros, era possível perceber o céu clareando no horizonte. Caminharam sem rumo por algum tempo, em silencio, acompanhados pelo som dos poucos carros e ônibus que passavam, nada que os tirasse da aura que os envolvia.
“Para onde vamos?” Ela perguntou, despreocupada, percebendo que o tirava de algum pensamento.
“Não sei. Não tenho que te levar pra casa?”
“Agora? Não faz mais diferença. Já fui seqüestrada.”
“Hm.” Murmurou enquanto afundava o rosto no seu cabelo, pensando no que fazer agora. “Quer comer alguma coisa?” Lembrara de não tê-la visto comer desde cedo, quando se encontraram.
“Não estou com fome não, mas se quiser te acompanho.” Deu um sorriso sincero, ele tentou decifra-lo por algum tempo, ambos acabaram acreditando. Seria um tanto inútil mentir sobre esse assunto.
Dobraram mais uma esquina, era uma rua de prédios grandes com uma grade dourada delimitando a calçada. Ele aproveitou a pequena distração e envolveu-a, puxando a cintura para que ficasse a sua frente e conseguisse beija-la. Conduziu-a até a grade, sem separar os lábios, queria sentir seu corpo junto ao dela. Ficaram ali, naquela guerra de línguas, mãos, pernas e sexos, despreocupados com o mundo à volta, havia desaparecido há horas. Desprendeu seus lábios do dela, beijou toda a face, até chegar ao seu ouvido.
“E agora?”
“E agora eu sou sua.”

sábado, 2 de fevereiro de 2008

earthquake.

A verdade é que eu gosto. Gosto dessa dormência que domina o corpo, do azedo por trás dos dentes, de ter meus músculos relaxados e minhas palavras descontroladas. Gosto de morder meu lábio inferior com força e não sentir, de estalar os dedos sem ter a menor idéia se doem, de olhar para você e sorrir.
Gosto até demais.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Encolheu e encolheu até sumir.

Secaram-me as palavras, como quando se torce uma blusa molhada em uma chuva de verão, arrancaram-me cada gota. Pingou e pingou até sobrar um pequeno pano úmido, eu. Pensamentos apenas arranham, coçam nos cabelos, mas não me escorrem pelos dedos. Meus medos não têm mais formas, literárias ou não.
A pequena menina de cabelos vermelhos e pele branca fugiu, escondeu-se em uma brincadeira. Ou talvez realmente tenha partido, já era hora. Era? Não sei.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

I just wonder...

O vento gelado bagunçava seus cabelos e fazia com que se encolhesse dentro do casaco, por que estaria demorando tanto? Mudava as músicas no ipod sem nem ouvi-las direito, começava a ficar nervosa. Sentiu o coração acelerar quando viu o carro dobrando a esquina, tentaria conseguir controla-lo quando entrasse.
“Quer carona moça?” Ele abaixou os vidros e perguntou com um sorriso sonso.
“Atrasado e ainda fazendo piadinhas, muito bonito.” Falou em um tom sarcástico enquanto entrava no carro quente, ainda tentando controlar seu coração.
“Desculpa, foi o transito.” Deu um beijo na sua bochecha fazendo-a corar.
Adorava seu cheiro, familiar de tão estranho. Evitava olhar para seu rosto, sabia que não conseguiria esconder o sorriso se o fizesse por muito tempo. Conversavam banalidades, como sempre, enchiam o carro com risadas e palavras trocadas, podiam fazer isso por horas sem nem perceber. Começava a chover do lado de fora e ela desviou seu olhar para a janela, reparando não estar indo para onde deveria.
“Se perdeu é?” Perguntou desviando o olhar das gotas de chuva no vidro e olhando para seu rosto.
“Não.”
“Pra onde a gente está indo então?”
Ele abriu um pequeno sorriso e não respondeu nada, odiava quando fazia isso. Tentou ler seu rosto, descobrir o que estava pensando, mas acabou desistindo, nunca foi boa nisso.
“Você ainda não respondeu a minha pergunta.”
“É uma surpresa. Algum problema?”
“Contanto que não inclua um matagal, facas, ou qualquer outra coisa com potencial de tortura, tudo bem.”
“Quer parar de tirar a diversão?”
Deixou o assunto morrer, concentrava-se na paisagem exterior para tentar descobrir onde estaria indo, mas nada lhe vinha à cabeça.
“Eu não vou ter que fechar os olhos ou qualquer outro tipo de coisa clichê né?”
“Por favor?!” A olhou com um sorriso sincero, ainda não conseguia descobrir o que ele queria com aquilo tudo.
“Cada dia você fica mais estranho.”
Tentava distraí-la com perguntas, evitar que ela olhasse pela janela, sabia que sua curiosidade seria um problema, mas esperava conseguir contorna-la. Reparou que suas mãos nervosas não paravam se me mexer, ajeitando a saia ou o cabelo. Pos uma das suas embaixo de uma dela entrelaçando os dedos, não olhou para seu rosto mas sabia que ela estava olhando. Estava bonita hoje, mais que o normal, talvez a ocasião a tornasse assim para ele, quem sabe, mas amava o jeito que o cabelo caia em seu rosto irritando-a.
“Posso te pedir um favor?” Ele perguntou com uma voz calma, nunca tirando os olhos da estrada.
“Depende.”
“Sempre com condições. Tem uma venda dentro do porta-luvas. Põe ela?”
“E o que você pretende fazer comigo vendada?” A voz lhe saia um pouco mais assustada e defensiva do que esperava.
“Confia em mim.” Pela primeira vez em algum tempo olhou-a nos olhos, mas não por muito tempo.
Pegou a venda no porta-luvas e amarrou-a sem apertar muito, mas era o suficiente para que não visse nada.
“Está conseguindo ver alguma coisa?”
“Para de fazer caretas, idiota.”
“Amarra direito, por favor.”
“Quem disse que não está? Não estou vendo nada, você que é muito previsível.”
“Tem certeza?”
“Ta bom, não muito, mas o suficiente.”
Sentiu o carro estacionar, não fazia idéia da onde estaria, mas pelo barulho parecia ser algum lugar fechado. Ele saiu do carro e foi abrir sua porta, ela não se moveu um centímetro. Ajudou-a a levantar e fechou a porta do carro, ela ainda se perguntando o que estaria para acontecer.
“Confia em mim?” Falou no seu ouvido, sua respiração causando-lhe arrepios.
“Confio.”
Antes que terminasse a palavra ele já havia colocado-a no colo, era tão leve que parecia não estar carregando nada.
“Estou começando a gostar disso.”
Aninhou-se em seu corpo quente, sentia-se segura em seus braços mesmo sem fazer idéia do que acontecia a sua volta.