domingo, 16 de agosto de 2015

boys like you and girls like me


           Gosto de dias despretensiosos, como aquela quinta que começa com tudo dando errado e acaba sendo exatamente o que você precisava.
            Acordei atrasada, fiquei presa no trânsito, trabalho só problemas, o carinha que eu tanto gostei tomou chá de sumiço, meu fone de ouvido quebrou, enfim, o dia pedia uma cerveja no final para a vida ficar um pouco mais amena. Liguei para uma, duas, grupos de amigas; todas ocupadas. Deve ser inferno astral atrasado.
            Minha amiga de infância atendeu: “Claro que vamos! Vou falar com a Helô, ela sempre anima essas coisas!” Saí do trabalho, mais trânsito, fila interminável no mercado, come qualquer coisa para forrar o estomago, vamos! Mas e o meu banho? Ficou para depois. Era apenas uma cerveja de salvação do dia.
            Um bar fechado. O outro vazio. Esse tá muito caro. Vamos na rua onde tem todo mundo. Mas eu to uó! Passa uma maquiagem na cara que melhora, esse batom vermelho fica bom pra disfarçar essa sua blusa de menino. Tem um desodorante jogado aí no chão do carro.
            Finalmente sentada em uma mesa de bar, com uma cerveja gelada na mão, a vida começava a se tornar agradável. Cumprimentar conhecidos, rir do menino que mandou uma piscada para a minha amiga, beber sem a preocupação de impressionar, ninguém vai prestar atenção em mim hoje mesmo.
            Olha lá aquela menina que estudava com a gente! Ela não tá morando na Austrália? Ah, eu gosto tanto dela! Ela nunca falou comigo no colégio. Vamos juntar as mesas! Oi, eu sou o irmão da Clara, vou deixar as minhas coisas aqui, tudo bem? Sem problemas.
            As horas passaram, os copos enchiam e esvaziavam. Na mesa pessoas com quem nunca havia falado e uma calorosa discussão sobre política. Eu não voto nele. Então você concorda com o governo atual? Não estou dizendo isso, só que não voto nele nem no partido dele. Você é louca, e nem vem que eu sei que essa de trabalhar com pobre é pra se sentir melhor consigo mesma! Obvio que é. Se você não fosse tão comunista namorava contigo.
            Olhei no relógio, já deveria estar em casa. Enchi o copo, agora não faz mais diferença. Levantei, ascendi um cigarro e encostei no carro, já consigo sentir a dor de cabeça vindo. Oi, desculpa qualquer coisa, viu? São só opiniões diferentes, não precisava sair da mesa. Imagina, eu fui só no banheiro mesmo. Ah, ok. Tem um isqueiro? Claro. O que você faz além de ser comunista e salvar pobre? Pouca coisa, não sobra muito tempo. Esse seu batom é um problema, eu não sei se converso com você olhando para os seus olhos ou a sua boca. Você olha para onde quiser.
            Minutos (horas?), beijos, implicâncias e cigarros depois minhas amigas me encontram, já estávamos indo. O Rafa vai te deixar em casa, ok? Como assim? Ele vai te deixar em casa ué. Tudo bem. Vamos? Vamos, só tem uma má notícia. A gente vai de ônibus? Não, de taxi. Então ta ótimo. Para ali, no posto por favor! Por que? Eu preciso sacar dinheiro. Não precisa, eu tenho. Até parece que você vai pagar. Por que? Porque não. É ali no próximo retorno, moço. Por que você ta virando aqui? Porque eu moro ali naqueles prédios. Eu não disse que ia te deixar em casa? Disse. Então para com isso, a gente passa lá em casa e eu pego o carro. Conheço essa história.
            Descemos do taxi a uma quadra da minha casa, poderia voltar a pé se quisesse. Ele bêbado de cair, eu julgando as escolhas da noite. Vou pegar a chave do carro e vamos para um motel, ou você prefere ficar aqui? Eu tenho aula daqui a pouco. Hm, só não pode fazer muito barulho porque a minha mãe ta em casa. Não sou muito boa em não fazer barulho. Quero só ver.
            Fui ao banheiro, joguei uma agua no rosto. Estava cansada e era visível. Que porra de decisão foi essa? Deveria ter ido para casa, to fedendo. Pelo menos ele riu quando disse que estava menstruada e peluda. “Vou ficar que nem o coringa de bigode?” Que tipo de resposta é essa? Bem, agora já estou aqui, melhor entrar no clima.
            Chego no quarto, vazio, apenas a janela aberta mostrando a madrugada. Tirei a roupa, deixei em uma pilha no canto junto com a mochila. Sentei na cama e esperei. Você já está assim? Fico até sem graça. Deita. Quer que eu apague a luz? Não. Assim que eu gosto.
            Subi em cima dele e tirei sua blusa enquanto lambia o descoberto. Mordi a nuca, achei o cinto. Abaixei a calça enquanto colocava seu membro duro na minha boca, ele gemeu. Permaneci ali até ser puxada, não sairia a não ser que me tirasse. Cadê a camisinha? Não tenho. Como assim? Não tenho. Porra, você me traz aqui e não tem camisinha? Ato falho. Pra caralho, vamos comprar. Tá falando sério? Obvio, senão não vai rolar. Aff. Se veste, a gente vai rápido.
            Dentro do carro sua mão na minha coxa, procurando o meu sexo. Eu rindo com um cigarro na mão. Vou parar ali naquele posto, deve ter. Não tem. Como tem tanta certeza? Eu moro ali do lado, vivo lá, nunca vi uma camisinha. Quer apostar? Quero. Então ta, se tiver você vai até lá em casa me chupando enquanto eu dirijo, e vou dar duas voltas no quarteirão. Fica à vontade.
            Ele volta da loja com o maior sorriso que já vi, começo a rir. Sentou, chegou o banco para trás e inclinou, enquanto se gabava da conquista. Ligou o carro e eu abri a sua calça, havia um quê de vitória em perder aquela aposta. Levanta que vou ter que abrir a janela para entrar no prédio. Você não ia dar duas voltas no quarteirão? .... Sorri e voltei ao que estava fazendo, me chamou de safada.
            De volta ao quarto terminamos o que havíamos começado. E começamos de novo. E de novo. Até sermos parados pelos meus despertadores. Preciso ir para casa. Você vai na aula mesmo? Vou, não posso faltar. Queria tanto que hoje fosse sábado e você pudesse ficar aqui. Também queria, mas não posso. Me deixa lá? Só porque você mora perto. Então se fosse longe eu voltava a pé, seu escroto? É
            Descemos o elevador com um senhor de olhar repreensivo, eu descabelada e ele feliz sorrindo. Não acredito que você mora tão perto, muito bom isso. Por que? Porque sim ué, sempre que quiser repetir só falar, tão perto. Você já disse isso. É porque to feliz mesmo por você morar perto. Então valeu a pena comer uma comunista? Claro que valeu, agora até voto no PT.