quarta-feira, 10 de novembro de 2010

take what you want from me, it means nothing now.


E o que acontece aqui enquanto a vida corre lá fora? Enquanto os segundos batem; um, dois, tres atrás do outro. Enquanto nada para, exceto eu.
Do mundo que gira minha saia sequer roda, o amerelo do sol de lá ja desbota, o azul manchado do ceu pelas paredes descasca, as flores do jardim morreram. O tempo, que como um fugitivo corria, parou para ser preso pelas janelas fechadas.
Do assoalho de madeira nada sobrou, sequer eu ou voce. De la fomos arrancados aos pedaços, todas as marcas e arranhões se foram, do amor apenas nos sobrou o eco. O ódio? Este perdura escondido, no espaço entre as persianas, ou em nós.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010


Depois de um tempo pairando no ar, girando em torno do quarto, as peças começam a cair no chão. Vão aos poucos, sem pressa ou muito barulho, e nós continuamos a observar. Sentamos ali, no assoalho de madeira, e juntos começamos a montar aquele quebra-cabeça. De inicio eu lá e você cá, os dois sem muito saber o que fazer, ou falar, apenas admirando carinhosamente enquanto tudo se encaixava. Nos aproximamos, trocamos o lugar; paramos, bebemos nossos copos d’água e pegamos o ar necessário, e depois voltamos, tudo ainda como havia sido deixado. Não houve um inicio propriamente dito, cada um começou e juntou o que quis, a sua própria maneira, e no meio do caminho sabíamos que nos encontraríamos.
Apenas um esbarrar de mãos foi necessário, estávamos há tanto tão absortos na tarefa de selecionar para juntar que nos esquecemos da presença um do outro; fingirmos estarmos sozinhos ali até a casualidade nos provar o contrário. Eu derrubei suas peças e você as minhas, misturou-se tudo, e como duas crianças confusas apenas nos olhamos, com um pouco de raiva talvez, mas sem muitas ações. Dali se seguiu uma palavra, e depois outra e outra até estas inundarem o quarto junto aos risos e ao novo quebra-cabeça, desta vez mais colorido. Misturamos tudo, presente, passado e futuro, criamos sinfonias e nunca paramos de montar, sem saber exatamente onde aquilo levaria, apenas aproveitando o percurso.

domingo, 26 de setembro de 2010


O olhou de longe e ascenou, estava sentado ha algum tempo sozinho na calçada daquele café, as cadeirinhas na rua com o seu tom frances. Ele sorriu e respondeu o gesto, com um ar doce. Ela se aproximou, observou como o cachecol xadrez combinava com os olhos azuis, puxou a cadeira e sentou.
"Oi."
"..... Oi."
"Tudo bem?"
"Tudo, e voce?"
"Tudo otimo. Tá há muito tempo aqui?"
"Não sei, talvez uns quarenta minutos. Q..."
"Não não, eu faço as perguntas hoje."
"...... tudo bem então."
Pegou o cigarro da bolsa e pediu ao atendente um isqueiro para acender, jogou o resto do maço na mesa, talvez em um gesto de oferecimento, mas continuou focada no menu.
"Parei de fumar."
"Oi? Ah... bom pra voce. Dizem que faz bem. Não sei, nunca tentei. Quer alguma coisa? Mais um café? O seu já deve estar frio."
"Pode ser."
Ela falava animada com o garçom, gesticulando e tagarelando alguma coisa qualquer. Era simpatica, meiga, daquele jeito que irrita as vezes.
"Pode deixar que eu pago, e não vou te incomodar por muito tempo. É que fui demitida, sabe."
"Está tudo bem? Por que voce foi demitida?"
"Sim sim, tudo otimo. Nunca gostei de lá, gente mesquinha. Não sei direito, algo a ver com contenção de despesas, blablabla. Ironicamente não demiritam a outra secretáriaincompetentepeitudaquedáprochefe, não sei porque ainda. Talvez não deveria ter negado aquele boquete quando ele pediu, mas foda-se, ja foi."
Ele apenas olhava assustado, sem saber como responder. Esquecia as vezes como era a honestidade dos inocentes, daqueles tão corrompidos que tudo se torna inverso. Convenientemente o garçom chegou com os pedidos. Aparentemente a demissão não diminuiu o ritimo como gastava.
"Voce vai comer esses tres pedaços de bolo, a torta E os pãezinhos com geléia?"
"Não não, são pra voce tambem, bobo. Não sabia do que voce gostaria mais, então pedi tudo. Parece bem gostoso. Pode pegar."
"Ah....."
"Agora estou com esse projeto de vida de virar hippie, sabe? É uma desculpa conveniente para a pobreza, e com certeza soa muito melhor que a palavra 'pobre'. Coisa horrorosa. Mas então, quão mais rapido eu gastar o meu dinheiro, mais rapido ele acaba e eu posso odiar o capitalismo e vivier dos meus artesanatos. Pena que não pode gastar com roupa, é muito consumista e tenho que treinar o desapego material."
Ele apenas ria, a achava estranhamente divertida sentada ali tagarelando sobre nada, mas sem querer deixando escapar segredos. Passaram horas ali, apenas conersando, pediram mais cafés, uma dose de vodka "para esquentar o coração" ela disse, e mais um pedaço de torta. Dividiram tudo quase irmamente, mesmo sem querer.
"Ai querido, desculpa, tenho que ir já. Preciso passar na casa dos meus pais e avisar o que aconteceu, e deve demorar bastante."
"Que pena... está tão divertido aqui com voce."
"Eu sei, podemos repetir quando quiser. E da proxima vez eu talvez te deixe fazer as perguntas."
"Seria bom. Quando voce pode?"
"Qualquer dia. Estou desempregada, lembra?"
"Amanhã."
"Eu disse qualquer dia. Se combinar certinho estraga. Gosto desses encontros casuais sem querer."
"Então tá."
Ela deixou a carteira em cima da mesa e se levantou sem dizer nada, apenas andou para longe. Ele até tentou chamar, mas não respondeu.
Dentro havia o dinheiro quase certinho da conta, como se ja soubesse quanto seria gasto, e nenhum documento nem nada que a identificasse, nunca perguntou seu nome. Apenas um papel, provavelmente um guardanapo, escrito a mão fora deixado ali.
"Pela beleza de fazer um desconhecido o seu amigo mais íntimo, nem que por algumas horas."

terça-feira, 21 de setembro de 2010

run, run away. no sense of time.


Once upon a time there was this beautiful, beautiful little girl, with short red hair and a crocked smile that everybody adored. But what people didn't know is that this girl was cursed, since before birth, because in her tiny body all the love in the world would be put in, so she just went on and on loving people, men and women, in hope of finding her prince charming.
He didn't exactly need a white horse or a shining armor, though that would be good, he just needed to love her. Not just love, that would be too simple, but to love as she did. With no limits, strings attached or announcements, just letting it grow as much as it could, and having this sweet scent of cinnamon, or vanilla.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Mamihlapinatapei


"Sabe...."
"O que?"
"...... nada."
"É, sei."
E sorriu enquanto o olhava nos olhos, sorrindo seu sorriso sincero, até que ambos voltaram a se concentrar no café que seguravam. Ela mexendo a colher e ele apenas olhando, maior parte do tempo observando o que fazia.
"E se eu te dissesse tudo?"
"Tudo o que?"
"Tudo."
"Talvez eu te amasse mais, talvez menos, mas ainda estaria aqui."
"Mentira."
"Verdade, voce sabe que é."
"E voce nunca iria embora?"
Ela apenas cantava junto a musica, com os olhos fechados, distraida. Talvez tivesse escutado a pergunta, provavelmente sim, e a respondesse assim. Terminou a sua chícara e levou as duas para a cozinha, sem deixar que seus olhos cruzassem os dele, não sabia exatamente o porque ainda. Voltou enrolada no casaco jogado no chão da sala, deve ter passado os ultimos dias ali, abandonado. Sentou no seu colo na ponta da cama e beijou seu rosto, esfregando a bochecha na barba mal feita, a mesma musica ainda tocando repetidamente.
"Por que se vestiu?" Ele perguntou passando a mão por ebaixo do casaco.
"Estava com frio."
"Eu podia te aquecer."
"Eu sei, mas resolvi dar um descanso ao seu abraço, e o casaco parecia tão sozinho la na sala."
"De voce meus abraços nunca querem descanso."
"Será?"
E o beijou nos labios mais uma vez, deixando-o tirar o casaco para recomeçarem tudo. Já perdia a noção se era dia ou era noite, se tinha fome ou se comera, quantos cigarros fumara ou se o maço continuava vazio, e de quem era antes de entrar naquele quarto.

[ Bon Iver - Woods ]

terça-feira, 17 de agosto de 2010

we're just two lost souls swimming in a fish bowl...


E sorriu mais uma vez. E passou a mão nos cabelos. E riu de novo. E beijou barba, nariz, labio e pescoço. E se fez de inteira metade. E puxou para mais perto, para completar. E riu. E beijou. E apertou os sexos, gemendo um pouco mais alto, para ver se gostava. E olhou nos olhos, mas não disse nada. Disse tudo. E escutou. E falou. Falou, falou, falou, e escutou. E trocou. E destrocou. E entrelaçou dedos, soltou, e entrelaçou de novo. Na dança dos dois que, na verdade, permaneciam parados. E abraçou mais forte, ainda para completar, e aquecer. E tremeu. Sentiu medo. E riu da piada sem graça, para não rir da engraçada. E fugiu para ser caçada. E chorou por dentro. De alegria. E continuou. E parou, só para começar de novo. E partiu. Só para voltar.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

[ Fink - This is the thing ]


Ela deitou e o abraçou, a madrugada invadia o quarto com o barulho dos carros e a luz dos postes lá fora, dentro apenas o lusco-fusco. Deslizou o dedo pelas suas costas nuas, ele tremeu, talvez estivesse frio, o cobertor sempre dava uma sensação de calor sufocante.
"Achei que tivesse ido."
"A mala está feita, perto da porta. Junto aos sapatos e ao guarda-chuvas."
Ele olhou para a janela, estava bem a sua frente. A luz laranja sempre o incomodou, achava a felicidade quando a lampada queimava, mas sempre vinha alguem logo trocar. Já a quebrara algumas vezes de propósito, para conseguir dormir. Não via as gotas de chuva refletidas na luz.
"Vai levar o guarda-chuva? Está noite clara lá fora."
"Mas uma hora o tempo muda, sai o sol e entra a chuva."
"Engraçado, este já não aparece aqui faz tempo."
Ela o abraçou. Choravam em segredo. Ele na verdade, ela nunca conseguiu esconder as emoções, ou os soluços. Tirou a blusa, sentiu o encostar das peles e o roçar dos moletons, identificou cada sabor e nota do momento. As lágrimas seriam as ultimas gotas de limão necessárias.
"Por que voce vai?"
"Porque preciso."
"Mentira, vai porque quer."
"Mentira, é pelos dois."
Ele virou e a olhou nos olhos, sentiu-se afogar por tudo ali. Havia amor em dor, em conflito, em completude. Havia ela. Havia ele. Não havia nada.
"Fica."
"Não."
"Por favor."
"Não posso."
"Então vai. Vai e não volta, fica aonde quer que seja. Não pense em mim, não traga o vento com o teu cheiro. Leve todos os livros, senão os queimarei. Nunca gostei de nenhum deles, sabia? Nunca gostei de nada na verdade...... só de voce."
"Sabe.... voce nunca soube mentir. Ou ser cruel."
Beijou-o na testa, vestiu a camisa amarrotada, pegou a mala na porta, o guarda-chuvas e saiu. Errou por horas; no corredor, na calçada, no hall de novo, no elevador, até encontrar o carro na antiga vaga na garagem. Abriu o porta-luvas e deixou a carta ali, sabia que demoraria a lê-la, se é que o faria, mas estava lá. Em palavras que não a pertenciam, mas muito melhores. Na verdade, não importava mais. Trancou o carro, deixou as chaves na portaria, e saiu para nunca mais voltar. Não olhou para tras sequer uma vez.

"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente"

quinta-feira, 17 de junho de 2010

and if our hearts all disappear...


E assim ela sorriu, como se aquecendo os primeiros raios de sol após o inverno. Era algo tímido, quase imperceptível, incapaz de derreter seu gelo, mas umedeceu seus corações. Ainda enroscada em seus braços ela ficou, sorrindo calada, com as lagrimas a correr pelo rosto. Estas tão tuas quanto minhas. Imóveis os dois permaneceram, com os olhos fechados, ou abertos, confundiam a escuridão do quarto com a própria. Tremeram pela ferida aberta, por ambos os destroços a se misturarem, formando do caos a beleza. Respirou apenas uma vez, puxando todo ar a volta, com medo de sufocar o momento.
“E agora?”
“Eu não sei...”
“Claro que sabe. É a sua bagunça.”
“Mentira.”
É tão tua quanto minha.
E cessaram as palavras, conseguiam sentir no ar a volta o seu peso úmido e morno, junto ao cheiro de velho após remexido. Era nisso que se tornaram, o baú escondido no fundo do armário que um dia cai liberando seu conteúdo. Após arrombada a fechadura, nem a esperança neste sobrou. Ela o abraçou mais forte, movida pelo medo de deixa-lo escapar, e esfregou seus narizes enquanto murmurava uma antiga musica de ninar, declarava seu amor no quase-silencio estático.
“E agora?”
“Eu não sei....”
“A bagunça foi minha....”
Tão tua quanto minha.
Entrelaçaram os dedos por debaixo do cobertos, esqueceram os sexos descobertos e as naturezas aflitas. Ela não mais sorria, beijava suas bochechas. Ele não mais chorava, olhava seus olhos sonhando afundar. Tremeram mais uma vez, ela urrou, ele a abraçou. Intercalavam a paz e o caos.
“E agora?”
“Não sei....”
“Agora somos um... eu tua e tu meu. As metades complementares e todo o resto. E não sei o que fazer...”
“Não há nada a ser feito.”
“Claro que há.”
“Não, não há. Com o menor movimento tudo irá embora, ou comigo ou contigo, então o que temos a fazer é permanecer parados.”
E assim permaneceram, entre o adormecer e o despertar. Esperaram, pelo maior tempo possível, como a pétala que, pacientemente, espera sua hora de cair.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

para você Mariana Stutz


de todas, você é a pessoa que eu sinto mais falta.
seja de irritar trocando as cores das tampas das suas canetas ou de apenas conversar fazendo um brigadeiro.
não sei, acho que me conquistou do mesmo jeito que entrou na minha vida: de supetão, arrombando portas e abrindo janelas para a luz entrar. só não queria te ver desaparecer, rapido ou devagar, pela porta da frente ou de tras, porque colecionar lembranças nunca supera a oportunidade de criar novas.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

and I think I'm going to like it.



   Ah, há tanto tempo não escrevo assim. Com a alma não a chorar, mas a regurgitar. Ou seria “vomitar” mais certo, porém feio? Tanto faz, a grande coisa é que agora não choro. Mentira, choro, mas um choro diferente. Com gritos e berros iguais a todos os outros, mas são diferentes, outros timbres, outra voz, outras lágrimas. São uma libertação. Do que? Não sei, de mim talvez, desse peso inútil e enorme no qual me transformei ao longo dos tempos, e que agora já me cansa. Não, não estou nem irei me livrar de você, uma vez que você não sou (ou é) eu. Vê, somos pessoas diferentes, e essa é a nossa beleza em estarmos juntos. Pois somos tão, mas tão diferentes que nos completamos, nos encaixamos. Não, não só no sexo, esse é apenas um necessário complemento físico.
   Nos completamos a medida que falamos de coisas que o outro não entende, mas aprendemos a ouvir com atenção, ou pelo menos a fingir. Porque eu falo alto e você fala baixo, e eu estou sempre a voar por ai. Ta aí, mais uma diferença completante. Não é lindo? Eu sempre bêbada e você sempre sóbrio, um o pilar do outro, e este a sua fuga. Você é os dois pra mim. Não, você não é tudo, desculpa. Desculpa nada, é ótimo você não ser tudo. “Tudo” envolve problemas, dramas, mais vômitos e choros, e tantas outras basbaquices que não se encaixam a você, mas a mim.
   E lá volto eu, tentando me livrar de mim mesma. Mas como fazer isso? Infelizmente nasci ligada a isso (sim, isso, sou uma coisa, tipo... não sei, sou complicada demais pra ser pedra que se mexe), como que por um cordão umbilical impossível de ser cortado, maldição.
Ai senhor, cansei de pensar e falar besteiras. Vou viver por aí. Vem comigo?

quarta-feira, 5 de maio de 2010

'Cause I've been dreaming a lie.


Acho que tudo o que sempre quis foi uma historia de princesa, com príncipes, bruxas e castelos. Daqueles mais comuns mesmo; com o clichê de ser raptada e depois resgatada com um beijo, ou um sapatinho de cristal. Queria um reino todo meu, colorido, de chuvas quando se está triste, e alguém para lutar por ele, ou por mim. Sonhei com isso por muito, muito tempo, talvez até mais que o considerado normal, até a realidade me arrombar a porta e com isso o meu conto de fadas.
Descobri que o príncipe não monta um cavalo branco, pois este não existe, e só me sobraram os lobos disfarçados, prontos para explorar meu sorriso, boca, olhos, coração, corpo e alma se pudessem, tudo com a voz mais sedutora. Vi as cores do meu reino de faz de conta de desfazerem, mudarem e remontarem, para depois descobri-las escondidas em fumaças, ou papeis de gosto ácido, mesmo assim diferentes, ilusórias e passageiras, apenas até o raiar da manhã quando voltava a ser a gata borralheira de maquiagem manchada. Senti meu castelo ruir e tomar novas formas, talvez de uma choupana, não ruim, mas diferente, não era mais o que conhecia, o cheiro mudou. Pior de tudo, percebi nunca ter sido princesa, sequer princesinha, e sim a minha própria madrasta, com maçãs envenenadas para me seduzir, enquanto me aprisionava na torre mais alta do castelo, sozinha e assustada.

sábado, 24 de abril de 2010

As vezes tudo parece uma mentira, só as vezes.
Naquelas poucas e raras nas quais eu procuro a verdade. Chega até a ser irônico, procurar uma coisa e achar o seu exato oposto.
Eu me pergunto quem seria o errado, eu que procuro ou você que tenta esconder. Não sei, talvez sejamos os dois. Ou nenhum. Sempre fomos um pouco disfuncionais mesmo.
Sorte a minha que a tua falta de interesse torna esse espaço indiferente a nós. Então não preciso me preocupar nem com verdades ou mentiras, apenas omissões.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

"So how's it like having everybody love you?"
"It Sucks."
*laughs* "Why? Don't like being desired?"
“No, it’s not that. It’s because, in the end, people only see what they want to. So is like having no one actually knowing me.”
“What do you mean?”
“People get amazed when I say I’m unhappy, but I’ve been like that for as long as I can remember. The thing is that I’m always smiling, laughing and fucking, so I’m supposed to be happy, but I’m just not.”
“...”
*lights a cigarrete* “See, even you got amazed.”
“But if people don’t see what you don’t show, it can’t only be their faul.”
“I’m not saying whose fault it is, just that it sucks.”

segunda-feira, 22 de março de 2010

quase Alice...


Foi numa tarde de segunda-feira que a vi, enquanto sentava na Travessa encolhida a estudar. A primeira vista era apenas um pequeno borrão, o mais colorido que já havia visto, mas ainda uma figura disforme graças à miopia e a falta de óculos. Rapidamente os busquei dentro da mochila para poder observá-la melhor, era uma das criaturas mais belas que já me havia cruzado os olhos. Continuei ali, perdida no tempo, a admirá-la do outro lado do vidro, folheava revistas sem importância, apenas para passar o tempo. Não era o tipo de beleza para todos; era esquisita, com os cabelos curtos e roupas de cores engraçadas descombinadas, mas era o suficiente para ser o meu. Apaixonei-me ali. Não iria abordá-la, imagine só o cômico de ser abordada no meio de uma livraria em plena segunda a tarde de sol, seria demasiado embaraçoso para ambas. Ao invés contentei-me em continuar fazendo o que já havia começado: imaginar-lhe nomes. Não possuía feições doces o suficiente para chamar-se Cecília ou Sophia, meus nomes preferidos, mas a julgar pelo numero de livros em sua mão gostava tanto da arte da leitura quanto eu, então, pelo motivo mais clichê possível, chamei-lhe Alice.
Sentava-se a minha frente agora em uma das outras mesas, precisei me controlar para não encará-la demais, sei que tendo a fazer isso as vezes, por pura inocência. Como fomos felizes Alice e eu aquela tarde na minha imaginação, tínhamos uma vida, um futuro juntas. Nossas tardes eram sempre alaranjadas e com sabor de baunilha, e sempre havia uma chuva no finalzinho para refrescar; as noites eram amenas e estreladas, cheiravam a dama-da-noite e com vaga-lumes a serem vistos piscando no horizonte. Quando dei por mim estava sozinha na loja já a fechar e meu ônibus prontamente já saia do ponto, minhas coisas todas espalhadas na mesa e nada feito, as folhas apenas com as linhas azuis impressas. Arrumei tudo e logo me aprontei para partir; na saída passei propositalmente perto da mesa onde sentava mais cedo, na tentativa de capturar a sua essência já desaparecida no ar.
Voltei lá todos os dias, sentava na mesma mesa e agora com os óculos já no rosto. Alguns levava-lhe uma carta, escrita exatamente o que se lê aqui, apenas a carregava, sabia que não conseguiria entregar.
Voltei lá todos os dias, e nunca mais a vi.

sexta-feira, 12 de março de 2010

you walk this world like you're a ghost


Desabotoou a camisa devagar, queria saborear aquele momento. Na verdade, as mãos apenas tremiam impedindo a agilidade, o que era ridículo.
“Algum problema?” ele sorriu e perguntou, pegando as suas bochechas nas mãos.
“Não, nada.” Ela riu e olhou para o lado. O que fazia ali?
“Deixa que eu faço.”
E pegou a blusa das mãos dela, estava impaciente. A desejava há tanto tempo, imaginou e repetiu cenas na mente por semanas, meses talvez. Mesmo antes daquele beijo, aquele acidental e errado beijo. Ela olhava pela janela, não importava de estar seminua ali em frente a rua, parecia que queria que olhassem. Abraçou-a e beijou seu pescoço, as mãos deslizavam pela pele descoberta, mas continuou imóvel, apenas soltando um gemido.
“Está tudo bem?” ele perguntou, olhando o seu rosto apático.
“Está sim, pode continuar.” Ela respondeu, virando-se e sentando na mesa, abrindo as pernas vagarosamente. “ou desistiu?”
Ele apenas abriu um sorriso, sádico, cruel, e ela o respondeu. A possuiu ali mesmo, para todos os vizinhos escutarem, ao maior volume. Ocuparam moveis, assoalhos e horas, esquecendo de respirar, puxando o ar apenas quando necessário, o resto do tempo batiam e mordiam, em meio a juras de amor secretas, em sorrisos e olhares. Eram o amor e o ódio, um pelo outro, e pelo mundo.
As sombras alaranjadas dançavam no reflexo pelas paredes e espelhos, havia muitos ali, lembrava a um motel, talvez fosse, não sabia mais como havia parado ali, grudada àquele outro corpo, trocando cheiro e suor. Não sabia se chorava ou ria, apenas ouvia a outra voz ao longe, em um murmurinho chato, queria que se calasse, a desconcentrava.
“CALA A BOCA!” Gritou antes de perceber o erro que cometia, se encolhendo logo em seguida.
“Oi?”
“Nada.”
“Você está bem?”
“Eu estou ótima.”
“É nisso que você está pensando nas ultimas três horas? Porque aqui você não está.”
“Não, e claro que estou aqui, não está me vendo!? Desculpa, continua.”
“Não.” E andou para trás atordoado, recolhendo a roupa jogada. Como voltaria para casa?
“Ai... desculpa vai.” Ela falou empurrando-o na cama, beijando o seu rosto.
“Não. Deixa eu ver os seus olhos.”
“Oi? Pra que?! Não.” Falou saindo da posição que se encontrava e levantando da cama, andando de costas escondendo o rosto.
“Você está doidona, não está? Vem cá!”
“NÃO!!!!” E se apoiou no pequeno armário de gavetas antes que caísse, as pernas falhavam, e o a madeira solta do piso machucaria se caísse. Agora percebia estar em casa, de onde teriam vindo todos os espelhos?
“O que tem de errado com você? O que está acontecendo? Por que você não me conta? Cadê!? O que você usou!?” Ele berrava, descontrolado, estava preocupado, sabia que não deveria ter ido, não tão cedo, temia perder tudo ali. “ Vem cá.”
A puxou pelo braço até o banheiro, estava trancado então arrombou a porta.
“O que você fez?”
Estava tudo destruído, manchado, sujo, havia um canudo de metal ao jogado ao chão e frascos vazios, cada coisa em um canto do cômodo. Ela chorava, gritava, caída ao chão, sem saber para onde ir. Ele a colocou no box e a abraçou, ela chutava e gritava, não havia mais nada a ser feito.
“O que você fez com você?”
“VAI EMBORA!!!!” Gritou com a ultima força que havia em si, depois disso não conseguiria pronunciar outra palavra.
“NÃO! NÃO COM VOCE ASSIM, SUA ESTUPIDA! POR QUE É TÃO TEIMOSA?”
“POR QUE VOCE É, SEU ESCROTO?!”
“PORQUE EU TE AMO, E VOCE FICA ASSIM POR ELE!!!”
“ELE NÃO TEM NADA COM ISSO, QUEM ESTÁ QUEBRADA SOU EU! VAI EMBORA, por favor.” E chorou enterrando o rosto em seu peito, deixando-se ser abraçada. Pedia desculpas baixinho, beijava seus ombros, os movimentos voltando ao normal.
Abriu devagar a água gelada sobre os dois, ela tremia, só assim reparou os roxos pelos seus braços e pernas, as costelas amostra, e foi beijando cada parte, enquanto acariciava o seu cabelo.
“desculpa....” Repetiu mais uma vez, como se estivesse quebrada, encostada a parede do chuveiro com a maquiagem borrada a escorrer pelo rosto.
“eu sei. vou passar o resto da noite aqui com você, nada precisa acontecer, só vou ficar por aqui.”
“não precisa, pode ir.” Ela falou empurrando-o para perto e aninhando-o em seu peito, dando um pequeno sorriso, como se querendo mentir estar bem.
“mas eu quero ficar.”
“não, você não quer, mas sabe que é o certo. Obrigada.”
E o beijou pelo rosto todo, sabendo o que fazia agora, deixou que a possuísse de novo, mais devagar, ambos chorando com os rostos escondidos.
Acordaram ali com a luz a entrar pela janela do quarto, ainda na mesma posição, abraçados, como verdadeiros amantes.
“Bom dia.”
Falava mais que o necessário.

terça-feira, 2 de março de 2010

à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


Imagine-me assim: uma criança, de uns 5 ou quiçá 6 anos, presa em uma loja de objetos de cristal, todos expostos em prateleiras pelos estreitos corredores. São vasos, pratos, copos, lustres e tudo mais que se pode imaginar, cada peça mais linda e delicada que a outra. Pelas primeiras horas observá-los me deixa extasiada, sem necessidade de respirar, apenas absorvendo todo o brilho a minha volta, são tantas cores vindas do cristal transparente. Dias depois, porém, nada me parece mais tão bonito assim; há imperfeições, poeira e rachaduras do tempo, os brilhos são sempre as mesmas luzes refletidas. Ocorre-me a brilhante idéia, a mais infantil de todas: por que não quebrá-los? Chutá-los um a um, ouvir os estilhaços quebrando e voando, batendo uns nos outros, machucar-me na deliciosa anarquia do caos.
Não há ninguém comigo lá, nenhum pai, responsável, ou sequer um vendedorzinho franzido, apenas placas em todos os cantos com “NÃO TOQUE” em letras garrafais e câmeras, muitas câmeras. Sou sempre observada a distancia. Logo passo a maior parte do tempo apenas observando tudo, andando calmamente, vez ou outra arriscando uma corridinha, mas nada demais, afinal, não posso tocar em nada. Já tropecei algumas vezes e quebrei pequenos objetos, mas nada que realmente pudesse me incriminar, foram apenas acidentes de percurso. Meu desejo de parti-los apenas cresce, enjaulado como uma fera, gritando cada dia mais.
Até que um dia, dia qualquer, eu acordo sem câmeras, ou sequer avisos nas prateleiras. Há mais luzes e lâmpadas, poucos cantos escuros para esconder-me caso algo de errado, mas nada para me avisar o que isso seria. Fico um tempo estática, esperando a pegadinha, procurando algum pequeno sinal de erro, mas não há nada lá. Talvez a loja tenha sido fechada, e me esqueceram dentro junto a todos aqueles objetos, agora já sem importância.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

what can I do to make this change?

Olhou-o com olhos úmidos, tentando engolir o soluço, procurava algum brilho para se agarrar.
“Então é isso?”
“Acho que sim.”
“Mas...”
“Não, não temos mais espaço para isso, sejam palavras ou gestos; não nos resta mais nada.”
E assim ela se pos a chorar, como que pela morte de algo importante, insubstituível, sugando todo ar a sua volta na esperança de que acabasse. Ele a abraçou evitando que caísse, sempre foram o pilar um do outro, e deixá-la desabar agora seria covardia.
“Desculpa, sei que não queria assim.”
“Você não tem o direito de pedir desculpas, de falar que vai melhorar, ou que eu sou a melhor coisa que já te aconteceu. Eu sei de tudo isso, e é tudo verdade, mas não é da sua boca que essas palavras devem sair.” Ela falava em gritos com o rosto afundado no peito, como que tentando entrar lá, entender o que se passava ali.
“Então o que você quer que eu diga?”
“Que você vai voltar.” Com a pouca força que restava agora tentava se afastar, mas os braços a sua volta cada vez mais apertavam.
“Não posso mentir para você. Seria injusto. Mas não vou te soltar até ter certeza que não vai sair daqui e fazer alguma besteira.”
“Claro que pode, você podia mentir pra sempre para mim, me faria feliz.”
“Mas não seria a verdade.”
“Para mim seria.”
“Eu te amo.”
“Mentiroso, agora eu já sei a verdade. E não importa o que faça, nunca mais será a mesma coisa. Uma ferida após aberta fecha, mas nunca volta a ser igual a antes.”
“Eu sei. Desculpa.”
“Já disse para não falar isso. Posso ir embora agora?”
“Só mais um pouco, por favor.”
“Se você não me deixar ir agora, vou achar que quer que eu fique.”
“Ta.”
“Eu te amo.”
“Eu sei.”
E assim a porta foi aberta, deixando ir um coração despedaçado e fechando outro partido.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

goodbye...

“And I want to play hide-and-seek and give you my clothes and tell you I like your shoes and sit on the steps while you take a bath and massage your neck and kiss your feet and hold your hand and go for a meal and not mind when you eat my food and meet you at Rudy’s and talk about the day and type your letters and carry your boxes and laugh at your paranoia and give you tapes you don’t listen to and watch great films and watch terrible films and complain about the radio and take pictures of you when you’re sleeping and get up to fetch you coffee and bagels and Danish and go to Florent and drink coffee at midnight and have you steal my cigarettes and never be able to find a match and tell you about the the programme I saw the night before and take you to the eye hospital and not laugh at your jokes and want you in the morning but let you sleep for a while and kiss your back and stroke your skin and tell you how much I love your hair your eyes your lips your neck your breasts your arse your and sit on the steps smoking till your neighbour comes home and sit on the steps smoking till you come home and worry when you’re late and be amazed when you’re early and give you sunflowers and go to your party and dance till I’m black and be sorry when I’m wrong and happy when you forgive me and look at your photos and wish I’d known you forever and hear your voice in my ear and feel your skin on my skin and get scared when you’re angry and your eye has gone red and the other eye blue and your hair to the left and your face oriental and tell you you’re gorgeous and hug you when you’re anxious and hold you when you hurt and want you when I smell you and offend you when I touch you and whimper when I’m next to you and whimper when I’m not and dribble on your breast and smother you in the night and get cold when you take the blanket and hot when you don’t and melt when you smile and dissolve when you laugh and not understand why you think I’m rejecting you when I’m not rejecting you and wonder how you could think I’d ever reject you and wonder who you are but accept you anyway and tell you about the tree angel enchanted forest boy who flew across the ocean because he loved you and write poems for you and wonder why you don’t believe me and have a feeling so deep I can’t find words for it and want to buy you a kitten I’d get jealous of because it would get more attention than me and keep you in bed when you have to go and cry like a baby when you finally do and get rid of the roaches and buy you presents you don’t want and take them away again and ask you to marry me and you say no again but keep on asking because though you think I don’t mean it I do always have from the first time I asked you and wander the city thinking it’s empty without you but I want what you want and think I’m losing myself but know I’m safe with you and tell you the worst of me and try to give you the best of me because you don’t deserve any less and answer your questions when I’d rather not and tell you the truth when I really dont’ want to and try to be honest because I know you prefer it and think it’s all over but hang on in for just ten more minutes before you throw me out of your life and forget who I am and try to get closer to you because it’s a beautiful learning to know you and well worth the effort and speak German to you badly and Hebrew to you worse and make love with you at three in the morning and somehow somehow somehow communicate some of the overwhelming undying overpowering unconditional all-encompassing heart-enriching mind-expanding on-going never-ending love I have for you.
-Sarah Kane, Crave

sábado, 23 de janeiro de 2010

Metas inúteis:

- Chutar o Fernando Haddad. (no saco de preferencia)
- Ter um ponei. ou um cavalo. ou um unicornio. (mais votos para o terceiro)
- Dirigir melhor que o meu namorado e infernizar a vida dele com isso (o que nunca vai acontecer)
- Comprar todas as coisas inúteis da Polishop e passar dias reclamando ao telefone sobre como elas não funcionam direito.
- Ler todos os livros que eu sei que não vou ler
- Aprender latim (com o único propósito de poder falar sozinha na rua sem as pessoas perceberem os absurdos que eu penso)
- Ter um sapo de estimação e passear com ele pela rua usando uma coleira vermelha
- Ter os peitos da Blake Lively (ou da Maravilhosa)
- Ter um pênis durante 24 horas e passar pela unica e maravilhosa experiência de fazer um pirocopto
- Tatuar um pikachu
- Melhor, ter um pokemon
- Comprar uma fumacinha ninja, para dar um efeito quando eu for dar perdido nos outros
- Dar um cachorro para uma pessoa carente
- Virar a Paris Hilton
- Pintar o cabelo com todas as cores estranhas possíveis e imagináveis
- Fazer uma rave na lua
- Pegar a Shane
- A mais importante: ser uma sailor ou uma card captor

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

[ Imogen Heap - Earth ]


Borrifou o perfume pelo corpo e pôs-se a girar pela casa, descendo escadas e esbarrando nas estantes, derrubando tudo ao seu redor. O vestido cada vez se espichava mais, crescendo e dobrando de comprimento. Queria dividir seu aroma por todos os cantos, cada pedaço que conseguisse, ignorando os gritos da mãe para que parasse já!!! Enquanto isso gargalhava alto, tropeçando em seus próprios pés de tonta, encaracolando mais os cachos. Estava em todos os centímetros da casa agora, com o seu aroma, sua essência, tudo aquilo lhe pertencia e era definitivo. Mesmo assim continuou a rodopiar, pelo jardim, pisando nas begônias tão bem cuidadas e cortando pés e braços em roseirais.
“Sou apenas feliz. Livre. É isso, sou livre e tudo isso a mim pertence.” Gostava da contrariedade da frase, queria ser a oposição em si. Se pudesse, traria a chuva só para chamar o sol e logo puxar a lua, e faria disso o seu curso de estações. Cantou alto o solstício de verão e jogou-se no chão, transformou em flor, bailarina e borboleta, tudo junto, misturado em uma nuvem, e logo choveu por todos os cantos, gritando em trovoadas