segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

por isso não vá embora...

"Depois de varrida a casa e assentada a poeira, quando tudo finalmente toma o seu devido lugar, é fácil notar os buracos pelo teto, parede e chão..."

Esse foi o inicio de um texto para você que infelizmente foi deixado em hiato devido ao excesso de lágrimas. Sabe, até chegar em casa a saudade ainda não me tinha apertado no peito, mas ficando aqui sozinha e voltando a minha rotina é que percebi a sua falta. Como não ter você pra convidar a tomar banho e lavar as minhas costas me dá vontade de ficar suja até a sua volta; ou ter fome e não comer nada porque sem você aqui não tem pra quem cozinhar um bom risoto. É nesses momentos que percebo o porque tenho tanto medo de te perder, porque ficar sem te ver não tem explicação. As únicas conversas e risadas são as vindas da tv e eu continuo jogada, ou talvez largada, no mesmo cantinho de sempre,encolhida e cheia de cobertas mesmo no calor.
E assim eu poderia continuar por quantas linhas ou tempo tivesse, descrevendo cada detalhe, nuance e berro que me faz te amar e pedir sempre para que volte, ou fique.
Então, por favor, volte. O mais rápido que conseguir, mesmo que demore para sempre. Apenas volte e deixe que eu te abrace e cubra de beijos.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

and you turned away and I wonder...


Sentou na escrivaninha, abriu a gaveta e tirou o papel amarelado pelo tempo junto à caneta tinteira do avô. Analisava cuidadosamente cada ação ao mesmo que se indagava porque, diabos, fazia aquilo. Não havia sentido, lógica ou razão para remexer em segredos escondidos de si dentro da alma, para abrir tão impiedosamente o próprio coração, mas agora estava decidido e seria feito.
Pegou e soltou a caneta inúmeras vezes antes de decidir que tudo aquilo era uma imensa bobagem e que apenas se fazia de idiota, afinal, não teria nada a escrever além de “oi” e outras palavras borradas a lágrimas. Nem sabia se a reconheceria depois de tantos anos ou se, na pior das hipóteses, a carta chegaria ao longínquo continente. “Ainda assim merecemos esse final”, repetiu baixo enquanto acendia o último cigarro e apoiava a testa nas mãos jogando o isqueiro para longe.
Deixou as lágrimas correrem junto às palavras, rasgou cada pedaço dentro de si em letras e fonemas. Contou verdades e mentiras, todas recheadas de estrelas e borboletas, como ambos gostam. Descreveu o quarto onde passaram aquele verão como se ele jamais o tivesse visto, e provavelmente nunca o tinha daquela forma. Terminou algumas horas depois e, com os olhos inchados como estavam, a enviou pelo correio, se esperasse não o faria.
Passados dois meses, a campainha tocou e lá ele se encontrava, com uma pequena mala e o envelope amassado nas mãos. Apenas foi necessária uma frase:
“Seu único engano foi achar que te deixei.”

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

and I miss you, love.

Depois de tanto me perguntar, de todas as horas me indagando, descobri o problema. Era obvio, perceptível, zombava de mim pela cegueira e mesma assim não o percebia. O problema é que sinto a sua falta.
Sei que não foi a lugar nenhum, que continua nas estantes que te coloquei pelo quarto enquanto tentava encontrar o melhor lugar para você, mas simplesmente não te sinto mais aqui. É como se toda aquela energia, todo o amor, me tivesse escapado pelos dedos enquanto não percebia. E não importa o quanto procure e remexa por ele, seja em gavetas ou no fundo dos seus olhos, não vejo em lugar nenhum. Mesmo em palavras consigo senti-lo esvaecer.
Talvez não o tenha perdido, ou jogado fora, apenas o esteja guardando, afogado por todas as outras coisas que nos assolam, em alguma caixa empoeirada pelos armários. Não sei, mas é disso que tento me convencer todos os dias.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

it's all for you...


Assoprou a sua pele devagar, desenhando um traço pelas costas, com cuidado para não acordá-lo; gostava de vê-lo dormir com aquela expressão, tranqüilo, alheio a tudo. Quedou-se a ficar ali, deitada ao seu lado, tentando ritmar as respirações, assim como ele fazia com os passos quando andavam pela rua, compensavam assim a falta de sincronia no resto do tempo. Ainda era quase noite lá fora, gostava do lusco-fusco com chuva, era como uma pequena canção de ninar, a qual ela sabia todas as notas e cantaria até que acordasse.
Ele abriu os olhos devagar, como se ainda cansado de tanto dormir, e assustou-se com os dois olhos que o observavam tão de perto, nunca tivera coragem de reclamar dessa mania, por mais que o incomodasse.
“Bom dia....” Falou ainda dormindo, sem certeza se queria dialogar ou apenas voltar a dormir.
“Bom dia dorminhoco. Dormiu bem ou te chutei demais?”
“Mais ou menos, mas consegui dormir, é só conseguir controlar as suas pernas de não caírem que o resto da noite fica tranqüilo.” Olhou rapidamente pela janela e viu o dia nublado ainda por nascer, com muita pouca luz ainda “Que horas são?”
“Não sei, mas ainda não amanheceu. Por isso não te acordei. Volta a dormir amor.”
“Você dormiu?”
“Pouco.”
“Por isso que eu estava dormindo então.”
Ambos riram um pouco, bem baixinho, podiam acordar algo pela casa, mesmo que esta como sempre estivesse vazia. Olharam-se por algum tempo, ele com os olhos fechados, mas sabendo exatamente quais seriam suas expressões e movimentos, e como, daqui a pouco, ela beijaria de leve as suas bochechas e se aninharia no corpo dele, sempre esperando alguma palavra ou gesto que confirmasse seu amor por ela, apesar deste já ter sido comprovado há anos. Ele apenas a abraçou e cheirou seus cabelos, gostava de deixá-la no mudo suspense.
“Você não vai dizer, né?” Ela perguntou com a voz sonolenta.
“Dizer o que?”
“Nada não...”
E apenas se entregou a dormir, estava cansada, e sabia que até que ele o dissesse seria insistência demais, por mera implicância. Ambos já sabiam como o outro funcionava, ele conhecia a insegurança dela, e ela o resguardo dele, então gostavam de brincar com isso. Seu amor não teria graça sem isso, sem essa doce habilidade de jogar e entender um com o outro, mesmo que na maior parte das vezes não se compreendessem.
“Eu te amo.” Ele falou baixinho, no pé do ouvido, mas só depois que a ouviu dar um leve som de (quase) ronco, um dos tantos barulhos estranhos que fazia.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

and it was all yellow...


Sentou-se na varanda da casa e deixou a porta aberta, queria que a poeira do verão entrasse. Sorriu para a sombra das duas árvores a sua frente, lembrava de já serem grandes quando ela ainda era apenas uma pequena semente em sua mãe, como papai sempre tentava explicar, e se perguntava quanto tempo as arvores vivem, e se é mais agradável a vida lá em cima que aqui em baixo.
Gostava do cheiro dessa estação, apesar de não gostar do calor, era um cheiro seco e morno, não sabia explicar, e o cantar das cigarras sempre a fazia pensar no natal, elas sempre cantavam alto nesse dia, por alguma razão. Passaria todas as tardes sentada naquela cadeira de balanço se pudesse, sem fazer nada, talvez com um livrinho ou outro, e alguns copos de suco e chá gelado, mas apenas apreciando o aroma. Também lhe agradava o amarelado que as coisas tinham por essa época do ano, é como se o calor se manifestasse em tudo assim, compensando-lhes pelo desconforto e o cansaço, às vezes era isso mesmo.
Prestou atenção nos sons a sua volta por alguns instantes, parou de respirar o máximo que pode para não atrapalhar com nenhum ruído, era uma pequena sinfonia tão bonita, sua de tão secreta. Havia os pássaros cantando e piando pelo jardim, alguns melhor que outros, os micos procurando por comida pulando de galho em galho, o canário dos avós cantando no quintal de trás, a avó cantarolando pela cozinha enquanto fazia algo gostoso para mais tarde, e bem no fundo um leve zumbido da tv ligada no andar de cima enquanto o avô assistia o futebol, e depois de algum tempo e um quase sufocamento, a seu próprio som de existir fundindo-se a tudo. Essa seria uma atividade que faria pelo resto da vida, observar como tudo se conecta mesmo quando não se percebe, e apenas é preciso um pouco de atenção para ver, ou ouvir.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009


Sinto tua falta, todos os dias. Não importa se estás presente ou não, apenas a sinto, como um vazio interno. Acho que a minha ausência se torna a tua, automática e invariavelmente, minha ausência de reflexos e sensações se tornam teus, pois quando os faz, não estou lá para senti-los. E isso, infelizmente, sou eu e não você.
Não ha nada a se fazer a respeito, nada a se consertar, apenas a minha falta de sujeito. Tornei-me uma frase impessoal, regada de verbos e conectivos, mas ninguém a quem endereçá-los. Estou fora de mim, e não sei aonde fui parar. Perdi-me por entre as ruelas da cidade ou em alguma página dos tantos livros que folheio diariamente. Sei que estou imóvel, esperando ser encontrada. E mergulho nos olhos de todos te procurando, mas nunca está por lá. Acho que só lhe encontrarei nos teus, que há tanto não cruzam com os meus.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

was it a dream or was it a lie?

E assim seu coração foi roubado. Colocaram-no em uma caixinha e saíram a velejar, sem muita pressa e com bastante calma, não consideravam aquele um objeto que uma pessoa como ela sentiria falta. Afinal, estava jogado pelo chão quando o encontraram. Talvez isso classificasse o ato mais como um empréstimo a longuíssimo prazo que um roubo propriamente dito, consideravam-se até fazendo um grande favor tanto a propriedade quanto a proprietário. Enfim, desimportante razões e acasos, o importante é que este, seu coração, já não se encontrava mais na posse de sua dona.
E esta? De principio não deu muita atenção ao fato, “é melhor assim” repetia mentalmente, afinal, aquele já estava todo quebrado mesmo. Sempre considerava o fato de governar sem um, copiar seus companheiros de oficio e jogá-lo fora, descartá-lo em prol do benefício e progresso (próprio. Palavra sempre omitida, mas muito bem escutada nos bastidores), não entendia porque não conseguia, a razão estúpida por tal apego emocional causada pelo próprio, mas agora, tudo se encontrava resolvido.
Após alguns meses, quiçá alguns dias diziam os mais íntimos, este lhe fez muita falta. Não entendia a lógica do raciocínio cru como lhe era apresentado agora, como o cinza jamais se torna vermelho ou azul, nem mesmo naqueles dias em que se encontrava distraída, estes agora tão raros. Sentia-se mecânica, programada, com um constante gosto acido na ponta da língua e pronto a espirrar no primeiro que aparecesse. Verdade era que seu povo progredia, havia fábricas e maquinas agora, mas não pareciam mais tão felizes. Os únicos que ainda lhe mantinham contato extra-diplomático, entende-se por uma relação na qual o interesse é apenas pessoal, eram outros governantes, estes sempre a convidar para as mais pavorosas festas e orgias, todas a custo dos outros. Assustou-os vê-la freqüentando tais lugares antes tão abominados, com o rosto inerte e entorpecido, agora mais poderosa que todos lá reunidos.
O coração? Este tornou-se uma lenda após algumas gerações, diziam apenas que ela nascera sem um, e já não restava mais quem contrariasse tal afirmativa. Aos mais atentos era possível notá-lo cercando-a a s vezes, correndo ligeiro pelos corredores do grande palácio, ou então escondido a pegar sol no jardim. A verdade é que nunca abandonara de verdade a dona, voltou pouco após o seu seqüestro, mas decepcionado com o que encontrou, conteve-se em ser apenas um observador, esperava um dia notar não ser a única consciência presente naquele corpo outrora tão cheio de vida. Até hoje, em vão.

sábado, 25 de julho de 2009

Era a isso que o amor deles se resumia; sexo, fumaças, um pouco de Strokes e mais um tanto de Radiohead. Aos mais conhecedores, o relacionamento perfeito. Os desfiles de corpos semi ou completamente nus pelo domingo de manhã, quando o sol ainda começava a invadir as persianas, após as noites gemidas pelos lençóis dava-os a perfeita sintonia. Havia brigas, de normais a dramáticas (dizem que até copos já foram atirados), e calmarias após risos e cosquinhas. Mesmo assim, ambos sempre a sorrir.
Duvidas e intrigas já foram lançadas aos dois, todas em vão. Eram inegáveis inteiros complementares, sobreviveriam um sem o outro, mas nunca da mesma forma. Talvez fosse por isso que não concordassem muito, ele dia e ela noite, ela doce e ele salgado, mas nunca discutiam sobre tentar.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Se eu gritasse ninguém poderia fazer mais nada por mim;

Eu me pergunto o que encontrarei no que em que me achar, quando a névoa se dissipar e eu finalmente consiga me ver no espelho. Não no sentido real da expressão, mas no que se olha exatamente para você, vê-se órgãos e sangue pulsando e todo aquele misto de cores que forma um “eu”. Me pergunto o que haverá lá.
Conheço meus espinhos como sei o endereço da minha casa ou o nome da minha mãe, sei que crescem cada dia mais, e que alguns criam o veneno a escorrer-me pelos olhos. Porém, não sei o que guardam, o que, com tanto trabalho e desordem, crescem a volta tampando. Já soube um dia, era visível, bonito de uma forma disforme; hoje penso também que apenas crescem deixando esse espaço vazio pelo habito, o que havia lá já secou.
A grande questão é como se faz isso; se achar. Ou melhor, como consigo me perder se não pertenço a mim? A maioria das pessoas precisa de ajuda para chegar onde deseja ou para sair de onde se está, eu preciso descobrir onde estou e se esse lugar real/imaginário me significa algo, o que eu cada vez tenho mais certeza que não. E o que isso quer dizer? Eu não sei.
Sentir-se morto não é a ausência de sentimentos, mas sim a apatia em senti-los. Mesmo sendo um paradoxo em conflitos até gramaticais, me faz todo sentido. E chorar toda noite não ajudará, ou te salvará, mas repete-se o habito noite após noite, só para ter certeza que ainda se está lá. É difícil distinguir a presença da falta quando se torna invisível para si. Continuo não fazendo sentido.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Para meus avós,


Há poucos momentos em que fico assim, com palavras demais e espaço de menos. É como se não coubesse em mim, algo bem estranho. Tão estranho que sei que não estou explicando direito. De qualquer maneira;
Ontem, pouco antes de dormir, comecei a pensar como faço todas as noites. Normalmente rondo coisas bobas até pegar no sono rápido; vestibular, relacionamento, pequenas frustrações e outras distrações quaisquer, mas desta vez foi diferente. Encontrei uma memória perdida, nem sei como, era de um momento bem trivial. Um chaveiro meu havia quebrado e meu avô prontamente se ofereceu para consertá-lo, sabia como gostava deste, e depois de alguns momentos na oficina voltou e me perguntou “era assim?” e eu, mimada, respondi que não, estava ao contrário (o que era verdade, não o falaria por tortura), e lá ele voltou para ajustá-lo exatamente como eu queria. O mais chocante no momento foi o fato de durante esse curto diálogo a amiga que se encontrava ao meu lado respondeu “Nossa, como eu queria ter um avô. Especialmente um assim como o seu, ele faz tudo por você.”; pior ainda é só entender isso aproximadamente oito anos depois.
Nunca fui boa em demonstrar sentimentos, especialmente entre a minha família, mas isso nunca significou que não os ame metade do que amo. O que é muito. Só comecei a indagar se eles sabem disso. É difícil acreditar em coisas que não se vê. Almoço lá todo dia e sei do quão ausente e distante sou a maior parte do tempo, mas não é por mal. Normalmente estou tão concentrada e perdida com os problemas da minha cabeça que bloqueio tudo, e eles são o tipo de pessoa com quem não quero fingir trivialidades pelo social, fingir com eles não é justo. Então acabo ficando na minha e respondendo apenas ao perguntado, puxando assunto aqui e ali sobre as atualidades. Acho que meu receio sempre foi de se eu deixar uma pequena fresta abrir, tudo saia ao mesmo tempo, enrolado e sem jeito como sou e pior, em choros convulsionais como acabei por ficar ontem à noite. Seria chato demais fazê-los passar por isso.
Só não queria perdê-los sem que soubessem disso, na verdade nunca queria ter de deixá-los ir, por mais natural. Já me arrependo tanto das mil facetas minhas que eles nunca verão, e os momentos que talvez eles não estejam lá e me fazem sentir falta de algo que ainda tenho. Queria tê-los no meu casamento, mesmo com meu avô aparentemente não aprovando a pessoa com quem me encontro, e que eles vissem a grande médica que espero me tornar (a qual o apoio destes foi incondicional), e tantas outras coisas que sem eles são incompletas. Eu sem meus avós sou incompleta.
Talvez isso tenha ajudado a esclarecer as coisas sem a necessidade de abraços tortos e, para mim, nunca com momento espontâneo oportuno para acontecer.



Obs.: Era para ficar com um tom mais poético e enfeitado, mas acho que a verdade nunca é assim.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

... and tell you how much I love...



E eu quero sentar em um banco na praia e dormir no seu colo. E te sentir entrando nas cobertas todas as manhãs com beijinhos no rosto quando nem desperta estou ainda. E rir das suas piadas às vezes sem graças só para te fazer feliz, porque sei que o riso é contagioso. E roubar suas cobertas enquanto durmo só para que reclame no dia seguinte; e até roncar às vezes. E pensar em surpresas quando está longe de mim para esquecer de fazê-las quando finalmente está perto. E rir por dentro dos seus ciúmes, mesmo quando eles me matam de medo. E brigar pelos maus-hábitos persistentes do meu passado. E estranhar como duas pessoas tão diferentes como nós podem se entender tanto, como um completa o outro. E sorrir toda vez que falo sobre você, e ter todos repararem nisso. E dar voltas pelo condomínio quando estou cansada porque você não quer ficar em casa. E perguntar como foi o seu dia. E não entender a sua matemática e a sua física, as quais você nunca me ensina. E enrolar para que não vá embora para ficar triste no momento em que fecho a porta. E espremer as suas espinhas escondido. E cheirar a sua pele para nunca mais esquecer como é. E passar meu dedo pelas suas costas contando as suas pintinhas. E ter um reclamando da musica do outro. E conhecer todas as suas mil facetas. E aprender a amar e a respeitar cada uma delas. E roubar sua comida quando não está vendo. E saber que você me faz uma pessoa melhor. E sentir a sua pele na minha. E te abraçar quando tenho medo. E tentar achar o presente perfeito para você. E nunca achar palavras suficientes. E relembrar cada momento juntos. E saber dos seus segredos, medos e anseios e entender como te fazem uma pessoa mais forte. E segurar a sua mão toda vez que andamos juntos. E te desejar toda vez que me toca. E escolher uma musica que você não gosta para nos representar. E quase dormir com as suas massagens. E te dizer bom dia todo dia mesmo que à distância. E não lembrar de dizer todo dia o quão lindo você é, mas nunca esquecer de repetir o quanto eu te amo. E sentir saudades mesmo quando está comigo. E adorar amar você.
E eu quero fazer amor com você pelo resto da minha vida.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

let the seasons begin,


No circo de palhaço, malabarista e bailarina nasceu uma flor. Pequena, miudinha, de um tamanho quase tímido. Cresceu de uma semente trazida pelo vento, não se sabe de onde ou o que, era tão curiosa. Tinha apenas um botão em sua ponta de uma cor indefinida, alguns diziam branco outros vermelho, até azul se ouviu. “Depende da hora, é mágica.”, falou o senhor de cabelos brancos dito como dono do local. “E o que se faz com isso? Botão de flor colorido maluco serve pra nada não. Nem desabrochar ela consegue.” Reclamou o leão, saudoso da atenção perdida.
Passou dia, noite, sol e chuva, até a estação mudou. O outono soprou, o inverno gelou até chegar a prima primavera. Da flor tomou conhecimento, mas nesta nem gastou muito tempo, era velha amiga. “Espere e verás” afirmou ao dono, que preocupado com a florzinha colocou-a em uma redoma de vidro. “Espero o que? Verei o que? Só não me diga que a levará embora, irei a falência, Prima.”, ela deu uma pequena gargalhada e o olhou com carinho. “Acalme-se, esta não obedece a mim.” “Então a quem o faz?” “Não sei.”.
E assim tudo continuou como era, a flor como uma atração estática e todos seus companheiros móveis e habilidosos, havia quem sentisse inveja. Tanto tempo passou que mudanças chegaram por lá; o dono tornou-se mais novo e trocou a cor dos cabelos, nem se dizia ser a mesma pessoa, e o leão perdeu a juba e até cresceu listras pretas.
Um dia, dia comum como todos os outros, ela desabrochou. Lançou um perfume fétido, podre, sua cor tornou-se negra como a morte, ou como a fome para alguns. Moscas se banhavam felizes no néctar sempre fluído de suas pétalas, ninguém atrevia se aproximar. Não havia fragrância francesa ou italiana que escondesse seu cheiro, impregnou na lona das paredes e na madeira da arquibancada. Secou todo o chão a sua volta, matou sem dó nem piedade tudo vivo preso a ele, sem chance de fuga, ainda por cima era covarde. Adquiriu uma voz feminina, aveludada, como quem seduz.
“Oi? Oi?” Chamava aos que observavam de longe, com as mãos sobre o nariz, e quando percebia a falta de sucesso em uma resposta esperava até o próximo passante. Passou dois dias assim, no final só indagava um “ooo...” e nem terminava, conhecia a surdez da ignorância. Desavisado e velho, perdido em sua quase cegueira, o leão chegou-se por perto, pisando no chão gosmento de néctar podre misturado com a terra áspera, “Que fedor aqui!” “Leão? Achei que tinha perdido a juba e criado listas....” “Não, aquele é o tigre. Meu substituto. Quem é?” olhou para os lados procurando, reflexos do passado. “Sou eu, a flor.” “Eca! É você que fede tanto assim? Sempre disse que era erva daninha....” “Sim, esse cheiro é meu. Cheiro a humanidade, e não sou erva daninha.” “Oi?!”
“Tenho o cheiro que me dão, não sou flor, sou a necessidade. Nasço de tempos em tempos, por aí, não tenho hora ou lugar certo. Como botão represento tudo o que o homem pode e precisa, sou viva, brilho. Mudo, alegro, viro atração. Sempre sou feliz como botão, consigo analisar bem caracteres. Até o dia que desabrocho, mostro a realidade, o odor vem da essência humana, modificada e pútrida cada vez que surjo, sempre pior.”
Após esperá-la terminar de falar o leão despediu-se e foi, com lagrimas a escorrer dos olhos. Naquela mesma semana o circo fechou, e da flor não se soube mais.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Soltou o ar uma, duas vezes. Sorriu como se tivesse medo de fazê-lo, apenas puxando a ponta dos lábios. Estalava os dedos enquanto olhava para os lados nervosa, parecia querer fugir dali. Perguntou-lhe se havia algo de errado mesmo que a resposta pudesse ser “tu”, achava superior a educação à rejeição. Recebeu um seco “não” quase como um tapa, as mentiras bobas faladas verdadeiramente.
Sempre pensou que gostasse dali, era um bar com ar de bordel abandonado, o papel de parede rosado misturado à madeira encardida, quase como um refugio atemporal, e sua presença não a incomodava mais hoje que nos últimos anos, então seria algo novo. Nunca foi muito chegado à surpresas na outra metade. Especialmente se tal visão de divisões não era recíproca.
“O que está pensando?” Lançou logo que a viu vagando com olhares pelas decorações no local; seu interesse por design de interiores costumava condizer com seus melhores pensamentos.
“Ai, você e as suas perguntas. Que saco. Nada.” E logo após matou-lhe a pedradas em sua imaginação. Assumiu fazer isso quando dava esse tipo de resposta uma vez.
“Sem assassinatos imaginativos hoje, por favor. Quer ir embora ou só que eu vá?”
“Bebe a porra da sua cerveja e para de encher o saco.”
“Não.”
“Então só fica calado e não enche o saco. Garçon!!!!!! Vê mais um chopp, por favor.”
Rendeu-se a ficar em silencio fantasiando o quão eram mais felizes e carinhosos um com o outro no tempo passado, inventando uma memória aqui e ali só para torná-los mais destruídos a ponto de não terem salvação atualmente. Ah... a saudosa época do sexo diário ou a simples falta da diária “dor de cabeça”.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

wait, they don't love you like I love you.


E assim você chegou; sem avisos, explicações ou sequer batidas na minha porta. Arrebatou-me o ar e as amarras, traçou linhas pelo chão com pés descalços. Os sapatos abandonara assim que entrou, a casa era sua. Dobrou lençóis e desfez estações, das andorinhas aproveitou apenas a melodia voante do verão.
Catou uma a uma as estrelas do meu céu contando suas historias, fez do meu teu e este o nosso. Separou lagrimas e as levou ao sol, sempre diz precisarem de ar para se acalmar. Soltou versos e palavras para que preenchessem o teto, o infinito particular. Plantou lírios de sangue, morte e amor por todo o jardim, perfumou-me com um cheiro tão teu.
Diagnosticou-me de louca e eu a ti de bobo, nossos remédios sempre perdidos em cobertas e abraços.