quinta-feira, 17 de junho de 2010

and if our hearts all disappear...


E assim ela sorriu, como se aquecendo os primeiros raios de sol após o inverno. Era algo tímido, quase imperceptível, incapaz de derreter seu gelo, mas umedeceu seus corações. Ainda enroscada em seus braços ela ficou, sorrindo calada, com as lagrimas a correr pelo rosto. Estas tão tuas quanto minhas. Imóveis os dois permaneceram, com os olhos fechados, ou abertos, confundiam a escuridão do quarto com a própria. Tremeram pela ferida aberta, por ambos os destroços a se misturarem, formando do caos a beleza. Respirou apenas uma vez, puxando todo ar a volta, com medo de sufocar o momento.
“E agora?”
“Eu não sei...”
“Claro que sabe. É a sua bagunça.”
“Mentira.”
É tão tua quanto minha.
E cessaram as palavras, conseguiam sentir no ar a volta o seu peso úmido e morno, junto ao cheiro de velho após remexido. Era nisso que se tornaram, o baú escondido no fundo do armário que um dia cai liberando seu conteúdo. Após arrombada a fechadura, nem a esperança neste sobrou. Ela o abraçou mais forte, movida pelo medo de deixa-lo escapar, e esfregou seus narizes enquanto murmurava uma antiga musica de ninar, declarava seu amor no quase-silencio estático.
“E agora?”
“Eu não sei....”
“A bagunça foi minha....”
Tão tua quanto minha.
Entrelaçaram os dedos por debaixo do cobertos, esqueceram os sexos descobertos e as naturezas aflitas. Ela não mais sorria, beijava suas bochechas. Ele não mais chorava, olhava seus olhos sonhando afundar. Tremeram mais uma vez, ela urrou, ele a abraçou. Intercalavam a paz e o caos.
“E agora?”
“Não sei....”
“Agora somos um... eu tua e tu meu. As metades complementares e todo o resto. E não sei o que fazer...”
“Não há nada a ser feito.”
“Claro que há.”
“Não, não há. Com o menor movimento tudo irá embora, ou comigo ou contigo, então o que temos a fazer é permanecer parados.”
E assim permaneceram, entre o adormecer e o despertar. Esperaram, pelo maior tempo possível, como a pétala que, pacientemente, espera sua hora de cair.