sábado, 1 de dezembro de 2007

Eu nunca disse as (terriveis) palavras que voce merecia escutar.

Ela virou o rosto, devagar, primeiro olhava para frente com o queixo afundado no travesseiro, agora observava a imensidão daquele quarto de motel barato. Havia se cansado daquele rosto, daquela mesma expressão, se tornara enfadonho. Ele não entendia, não via, continuava a acariciar-lhe as costas nuas.
“Não quero mais te olhar.”
“Que?” Ele não entendera, era uma frase um tanto estranha, nunca a ouvira antes.
“Não quero mais olhar para você.”
“Por quê?”
“Porque não. Não tenho muitas razões, se é que as tenho, só não quero.”
Parou de acariciar suas costas, ainda tentava entender o que estava sendo dito ali. Ela respirava devagar, inexpressiva, imóvel. Puxou-a pelo ombro, virando-a de barriga para cima, mas não adiantava, mesmo no teto espelhado ainda não olhava para ele. Escalou-a, ficando entre a cama e o espelho, olhando nos olhos. Esperou uma reação, mas nada aconteceu, era como se o peso daquele corpo não existisse, como se ainda contasse os ossos da costela pelo espelho.
“Queria conseguir fazer com você o mesmo que fez comigo.” Ela falou, depois de muito tempo, a voz calma, cortando como uma faca afiada.
“Como assim?”
“Queria te marcar do mesmo jeito que você me marcou, te machucar, mas da mesma forma. Daquela que deixa uma cicatriz incomoda, feia.” Uma única lagrima escorreu do olho esquerdo, devagar. Sabia do pânico que causaria nele, a vontade de correr, e nunca desejou tanto que o fizesse.
“Mas...” Tentou falar, balbuciando, sem saber o que responder.
“Não. Não quero que você responda nada, sempre piora.”
“Está cansada?”
“Não.”
Então ele a possuiu, beijando o pescoço, não havia nada mais a fazer.

3 comentários:

Tharik disse...

Bem, se você dissesse que a personagem do texto anterior e desse texto são fragmentações da sua personalidade, daí eu vou me sentir melhor, porque não estou achando interessante um mero personagem de conto, e sim a autora.

Ah, postei no blog agora o capítulo I do meu livro... é meio que uma auto biografia imaginária contada em pequenos pedaços. É meio grandinho o texto, mas acho que você vai gostar. É parecido com o jeito com você escreve. Se quier ler e comentar, ficarei agradecido.

:*

Anônimo disse...

Eu gostaria de escrever quase exatamente o que você escreveu, hoje. Nem sempre o silêncio fala mais alto, precisava ler algo que me lembrasse o que nunca falo. Consegui aqui.
Gostei muito, lerei o resto.

Daonde você achou o breu-lírico? aliás, quando você comentou, se referiu à Renata ou à mim. Te conheço de algum canto, não sei de qual...

Também tenho medo de amar.

Anônimo disse...

Ah, sim. já ia me esquecendo, sou do www.breu-lirico.blogger.com.br