E tudo começou assim: lá estava eu, com aquele vestido cinza e os sapatos pretos, naquele bar até então ignorado na cidade. Salvo algumas pessoas, aquela me era uma mesa desconhecida, mesmo que amigável. Por entre os rostos e corpos espremidos com mãos encostadas em gotas de bebidas pela mesa, estava o seu. Familiar de tão estranho. Na verdade, não me era nada estranho, apenas familiar. Pus-me a te observar por algum tempo, discretamente para que não percebesse. Lembrei-me de já tê-lo visto antes, trocado poucas palavras sem importância, sabia que não lembraria. Afastei a memória e o pensamento de te recorda-la, provável que por vergonha.
Acho que era tão obvio meu interesse por você que logo fora arquitetado um plano para que percebesse. Não por mim, obvio. Até hoje não entendo como não percebeu. Com o passar do tempo encontrei-me conversando com alguém maior que eu calculara antes como se o conhecesse desde a infância, apesar de ser um mero desconhecido com passos tão rápidos quanto os meus. Não acharia impossível me apaixonar por você logo ali. (....)
E então você me beijou. Não sei o contexto, mas sei que o fez. Estava tonta e enjoada, então não consegui ficar muito tempo, por mais que quisesse. Pegamos copos d’água na cozinha e meu estômago começava a mostrar sinais de estrago pela vodka intra-venosa tomada anteriormente. Idas ao banheiro, purgações e pedidos de desculpa rechearam o resto da noite, enquanto tentava achar qualquer razão para que continuasse ali enquanto me degradava. Acabei por adormecer em seu colo algum momento, incrivelmente a pedidos seus que o fizesse.
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