Abriu o
sorriso como quem desabrochava, abaixando o rosto tentando esconder o rápido
momento de vulnerabilidade. O que estava acontecendo? Onde estava a menina tão
dona de si e de seus sentimentos? Aquela que prometeu nunca mais se apaixonar.
Olhou
para ele confusa, procurando resposta em seus olhos. Ele respondia com mais
confusão, nunca entendendo o que se passava ali. Tentou se aproximar e ela
encolheu na cadeira tentando fugir, então apenas passou a mão em seus cabelos e
riu.
“Adoro
os seus cachos.”
“Eu
sei, sempre diz isso. Mais uma cerveja?”
“Você
sempre muda de assunto assim?”
“Que?”
“Me diz
algo que eu não saiba sobre você.”
“Essa
pergunta é minha.”
E virou
o resto do copo, se perguntando por que tantos anos depois ainda continuava com
os mesmos maus hábitos. Sempre a mesma pergunta, mas com respostas cada vez
mais distintas, mesmo que verdadeiras. Olhou mais uma vez nos olhos, gostava
deles. Eram meigos, lembrando os dela própria. Talvez fosse isso o que tanto a
atraia, essa falsa semelhança imaginada entre eles.
Deixou
as mãos se encontrarem e os dedos automaticamente se entrelaçaram, como um
antigo vicio. Sorriu mais uma vez, quase rindo. “Talvez seja só a cerveja. É,
com certeza é isso.” Continuava repetindo mentalmente enquanto conversavam e
seu corpo cada vez mais se inclinava em direção a ele. Beijaram-se mais uma vez
de forma longa e intensa, incomodando todos ao seu redor como sempre faziam.
“Me
leva daqui.”
“Como?”
“Pra
qualquer lugar, me leva para onde você quiser ir.”
“Tem
certeza?”
“Não.”
“Então
ta.”
E
naquela noite ambos sumiram. Buscou-se por anos e meses encontrá-los novamente,
mas sempre em vão. As únicas mensagens esporádicas consistiam de apenas uma
palavra: Alegria.