Você foi a janela para qual a minha alma se abriu.
Chovia torrencialmente lá fora, as cortinas balançavam com o vento e eu me recusei a fechar. Havia água para todos os lados, meus pés estavam encharcados, enquanto meu coração cantava o fim da seca.
Pois o amor, querido, é inundação.
sexta-feira, 27 de novembro de 2015
"The saddest end to a relationship is one where you have to break up with somebody when you’re still in love with them. It sounds bizarre but it happens, because the truth is, as powerful and as thrilling and as wonderful as it may be, love isn’t always enough and to be in love doesn’t always mean you’re happy. You can continue to love someone even after they’ve hurt you, but you know deep inside yourself that it won’t ever be the same again, so at some point, you have to let them go. When is the right time? You never know. That’s the sad part, too. You just have to walk to the edge of it all and jump, learning to grow back the wings you once had on the way down." - the-taintedtruth
terça-feira, 24 de novembro de 2015
Dias se transformam em noites
enquanto meu tempo permanece suspenso. A roda da fortuna quebrou e apenas o
limbo me resta. Este que transformo em inferno para queimar. Flerto com meus demônios
e eles me repetem ao pé do ouvido: Todo carnaval tem seu fim e de você nem as
cinzas vão sobrar.
O tempo
me escapa como areia por entre os dedos, levando nossos pequenos pedaços. Sinto
em cada grão suas risadas e meus chamegos, desconexos na imensidão dessa praia.
As ondas vêm com a força de uma ressaca, lavando as lagrimas do meu rosto
cansado de sorrir. Lembranças perdidas na imensidão do mar, afogadas pelas
palavras nunca ditas. O canto da sereia surge enquanto o sol raia, e não há
nada mais a se esperar.
E em um
piscar de olhos, você estava lá. Teu cheiro, teu jeito, tua voz. Suas palavras
preenchiam os meus dias, enquanto eu insistia em manter a porta fechada. Aqui
você não entra, gritei comigo, postergando o inevitável.
Eu preocupava com as portas,
passei a tranca em todas, e você pulou os muros. Um por um, fazendo da minha
pista de obstáculos uma trilha a ser descoberta. Entrou nos quartos, nas salas,
tirou o pano dos moveis, abriu as janelas. Olhei as rachaduras, percebi o
quebrado, corri para esconder os cacos. Em vão.
Descascou todos. Um por um, meus
pedaços caíam por trás dos sorrisos e você sempre a olhar. Prestou atenção em
cada, até ver o todo. A luz entrava pela janela e não havia onde esconder. As
portas estavam abertas e as chaves agora não mais me pertenciam.
quinta-feira, 10 de setembro de 2015
Aquelas
paredes já haviam visto de tudo, mas nada as prepararia para o que estava por
vir.
Motel
barato, perdido entre a Lapa e a Glória. “Lugar justo” alguns dizem. Paredes
recobertas de veludo, para guardarem seus segredos. Gravam tudo, riem e
discutem. O bizarro já virou rotina. Entra um casal jovem, descolados e
despretensiosos. Daqueles que confundem luxuria por amor e safadeza com
carinho. Olha que engraçado, ela tá vestida de palhaço. Já é carnaval?
Acendem
um baseado, o riso rola solto. Mais um desses, tão ficando populares. Fica
quieta senão não consigo ouvir. Xi, ficou seria a conversa. Meu deus, o que é
que eles tão falando? É isso mesmo? Por que eles estão rindo? Isso não é
engraçado. Cala a boca senão eu não consigo ouvir!
As
horas passava e eles continuavam lá, vestidos, conversando. A quantidade de
peças no corpo aos poucos diminuía, mas não os assuntos. Eles decidiram se
conhecer no motel, é? Gente estranha. Já te falei pra ficar quieta. Ah ta,
quando é putaria você não cala a boca, e agora eu não posso falar?! Isso é
diferente. Ih a lá, agora vai.
Tempos
de silêncio e eles voltam, a risada continua. Conseguem ouvir os quartos
alheios e mais gargalhadas preenchem o ambiente, junto a certeza de que em
nenhum outro aquilo tudo estaria acontecendo. Ela sorri após cada beijo, ele
olha e nada diz. Eles já vão né? Já. Será que lá fora a coisa continuam assim?
Não sei. Será que eles voltam? Espero que sim.
Gosto
de dias despretensiosos, como aquela quinta que começa com tudo dando errado e
acaba sendo exatamente o que você precisava.
Acordei
atrasada, fiquei presa no trânsito, trabalho só problemas, o carinha que eu
tanto gostei tomou chá de sumiço, meu fone de ouvido quebrou, enfim, o dia
pedia uma cerveja no final para a vida ficar um pouco mais amena. Liguei para
uma, duas, grupos de amigas; todas ocupadas. Deve ser inferno astral atrasado.
Minha
amiga de infância atendeu: “Claro que vamos! Vou falar com a Helô, ela sempre
anima essas coisas!” Saí do trabalho, mais trânsito, fila interminável no
mercado, come qualquer coisa para forrar o estomago, vamos! Mas e o meu banho?
Ficou para depois. Era apenas uma cerveja de salvação do dia.
Um
bar fechado. O outro vazio. Esse tá muito caro. Vamos na rua onde tem todo
mundo. Mas eu to uó! Passa uma maquiagem na cara que melhora, esse batom
vermelho fica bom pra disfarçar essa sua blusa de menino. Tem um desodorante
jogado aí no chão do carro.
Finalmente
sentada em uma mesa de bar, com uma cerveja gelada na mão, a vida começava a se
tornar agradável. Cumprimentar conhecidos, rir do menino que mandou uma piscada
para a minha amiga, beber sem a preocupação de impressionar, ninguém vai
prestar atenção em mim hoje mesmo.
Olha
lá aquela menina que estudava com a gente! Ela não tá morando na Austrália? Ah,
eu gosto tanto dela! Ela nunca falou comigo no colégio. Vamos juntar as mesas!
Oi, eu sou o irmão da Clara, vou deixar as minhas coisas aqui, tudo bem? Sem
problemas.
As
horas passaram, os copos enchiam e esvaziavam. Na mesa pessoas com quem nunca
havia falado e uma calorosa discussão sobre política. Eu não voto nele. Então
você concorda com o governo atual? Não estou dizendo isso, só que não voto nele
nem no partido dele. Você é louca, e nem vem que eu sei que essa de trabalhar
com pobre é pra se sentir melhor consigo mesma! Obvio que é. Se você não fosse
tão comunista namorava contigo.
Olhei
no relógio, já deveria estar em casa. Enchi o copo, agora não faz mais
diferença. Levantei, ascendi um cigarro e encostei no carro, já consigo sentir
a dor de cabeça vindo. Oi, desculpa qualquer coisa, viu? São só opiniões
diferentes, não precisava sair da mesa. Imagina, eu fui só no banheiro mesmo.
Ah, ok. Tem um isqueiro? Claro. O que você faz além de ser comunista e salvar
pobre? Pouca coisa, não sobra muito tempo. Esse seu batom é um problema, eu não
sei se converso com você olhando para os seus olhos ou a sua boca. Você olha
para onde quiser.
Minutos
(horas?), beijos, implicâncias e cigarros depois minhas amigas me encontram, já
estávamos indo. O Rafa vai te deixar em casa, ok? Como assim? Ele vai te deixar
em casa ué. Tudo bem. Vamos? Vamos, só tem uma má notícia. A gente vai de
ônibus? Não, de taxi. Então ta ótimo. Para ali, no posto por favor! Por que? Eu
preciso sacar dinheiro. Não precisa, eu tenho. Até parece que você vai pagar.
Por que? Porque não. É ali no próximo retorno, moço. Por que você ta virando
aqui? Porque eu moro ali naqueles prédios. Eu não disse que ia te deixar em
casa? Disse. Então para com isso, a gente passa lá em casa e eu pego o carro.
Conheço essa história.
Descemos
do taxi a uma quadra da minha casa, poderia voltar a pé se quisesse. Ele bêbado
de cair, eu julgando as escolhas da noite. Vou pegar a chave do carro e vamos
para um motel, ou você prefere ficar aqui? Eu tenho aula daqui a pouco. Hm, só
não pode fazer muito barulho porque a minha mãe ta em casa. Não sou muito boa
em não fazer barulho. Quero só ver.
Fui
ao banheiro, joguei uma agua no rosto. Estava cansada e era visível. Que porra
de decisão foi essa? Deveria ter ido para casa, to fedendo. Pelo menos ele riu
quando disse que estava menstruada e peluda. “Vou ficar que nem o coringa de
bigode?” Que tipo de resposta é essa? Bem, agora já estou aqui, melhor entrar
no clima.
Chego
no quarto, vazio, apenas a janela aberta mostrando a madrugada. Tirei a roupa,
deixei em uma pilha no canto junto com a mochila. Sentei na cama e esperei. Você
já está assim? Fico até sem graça. Deita. Quer que eu apague a luz? Não. Assim
que eu gosto.
Subi
em cima dele e tirei sua blusa enquanto lambia o descoberto. Mordi a nuca,
achei o cinto. Abaixei a calça enquanto colocava seu membro duro na minha boca,
ele gemeu. Permaneci ali até ser puxada, não sairia a não ser que me tirasse.
Cadê a camisinha? Não tenho. Como assim? Não tenho. Porra, você me traz aqui e
não tem camisinha? Ato falho. Pra caralho, vamos comprar. Tá falando sério?
Obvio, senão não vai rolar. Aff. Se veste, a gente vai rápido.
Dentro
do carro sua mão na minha coxa, procurando o meu sexo. Eu rindo com um cigarro
na mão. Vou parar ali naquele posto, deve ter. Não tem. Como tem tanta certeza?
Eu moro ali do lado, vivo lá, nunca vi uma camisinha. Quer apostar? Quero.
Então ta, se tiver você vai até lá em casa me chupando enquanto eu dirijo, e
vou dar duas voltas no quarteirão. Fica à vontade.
Ele
volta da loja com o maior sorriso que já vi, começo a rir. Sentou, chegou o
banco para trás e inclinou, enquanto se gabava da conquista. Ligou o carro e eu
abri a sua calça, havia um quê de vitória em perder aquela aposta. Levanta
que vou ter que abrir a janela para entrar no prédio. Você não ia dar duas
voltas no quarteirão? .... Sorri e voltei ao que estava fazendo, me chamou de
safada.
De
volta ao quarto terminamos o que havíamos começado. E começamos de novo. E de
novo. Até sermos parados pelos meus despertadores. Preciso ir para casa. Você
vai na aula mesmo? Vou, não posso faltar. Queria tanto que hoje fosse sábado e
você pudesse ficar aqui. Também queria, mas não posso. Me deixa lá? Só porque
você mora perto. Então se fosse longe eu voltava a pé, seu escroto? É
Descemos
o elevador com um senhor de olhar repreensivo, eu descabelada e ele feliz
sorrindo. Não acredito que você mora tão perto, muito bom isso. Por que? Porque
sim ué, sempre que quiser repetir só falar, tão perto. Você já disse isso. É
porque to feliz mesmo por você morar perto. Então valeu a pena comer uma
comunista? Claro que valeu, agora até voto no PT.
domingo, 5 de abril de 2015
Te
encontrei em um dia quente, quase como aqueles de verão. Eu te encontrei ou
você me achou? Não sei, talvez um pouco dos dois. Há semanas discutíamos tudo;
sexo, amor, religião, você com suas historias longas e eu com minhas respostas
complicadas. Havíamos deixado tanto e tão pouco para a imaginação.
Desde
que nos encontramos percebi a noite derreter, alongando e encurtando os minutos
no seu decorrer, até terminar em dia. Não havia assunto com fim, ou problema a
ser solucionado, os cigarros eram meus e a culpa era sua. Você louco e eu bêbada.
Desvendamos o corpo um do outro
como se pintássemos um quadro, você sempre nos extremos e eu nas lacunas
buscando o equilíbrio. Como tinta no papel nos tornamos um até não haver espaço,
ou forças, para mais. E assim continuamos até acabar o que menos possuíamos:
tempo.
Tempo este que após voltou a ser rígido.
Os dias corriam um atrás do outro, enquanto os minutos insistiam em durar
sessenta segundos. Havia pedaços de mim e pedaços de você, mas esparços, cada
vez mais distantes.
E então, juntos, continuamos
separados. Corpos se uniam, mas não se fundiam. As lacunas eram preenchidas por
silêncio. Eu ali, você aqui, e ambos distantes. A sincronicidade dos que se
perdem. Nos despedimos com a certeza do adeus, e eu com o mesmo sorriso por debaixo
do beijo da primeira vez.